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O Mistério do Sábado Santo

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O Mistério do Sábado Santo Empty O Mistério do Sábado Santo

Mensagem por Pe. Anderson Sáb Abr 23, 2011 11:24 am

Caros amigos,

Vejam esses textos que nos falam do mistério grandioso que celebramos hoje: o mistério do Sábado Santo, o dia do silêncio de Deus.

Queridos amigos!

Para mim, este é um momento muito esperado. Estive diante do Santo Sudário noutras ocasiões, mas desta vez vivo esta peregrinação e esta reflexão com intensidade particular: talvez porque o passar dos anos me torna ainda mais sensível à mensagem deste extraordinário Ícone; talvez, diria sobretudo, porque estou aqui como Sucessor de Pedro e trago no meu coração toda a Igreja, aliás, toda a humanidade. Dou graças a Deus pelo dom desta peregrinação e também pela oportunidade de partilhar convosco uma breve meditação, que me foi sugerida pelo subtítulo desta solene Ostensão: "O mistério do Sábado Santo".

Pode-se dizer que o Sudário é o Ícone deste mistério, o Ícone do Sábado Santo. De facto, é um lençol sepulcral, que envolveu o corpo de um homem crucificado totalmente correspondente a quanto os Evangelhos nos dizem de Jesus, o qual, crucificado por volta do meio-dia, expirou aproximadamente às três da tarde. Ao anoitecer, porque era Parasceve, isto é a vigília do sábado solene de Páscoa, José de Arimateia, um rico e competente membro do Sinédrio, pediu corajosamente a Pôncio Pilatos para poder sepultar Jesus no seu sepulcro novo, que tinha sido escavado na rocha a pouca distância do Gólgota. Ao obter a autorização, comprou um lençol e, deposto o corpo de Jesus da cruz, envolveu-o com o lençol e colocou-o naquele túmulo (cf. Mc 15, 42-46). Assim refere o Evangelho de Marcos, e com ele concordam os outros Evangelistas. A partir daquele momento, Jesus permeneceu no sepulcro até ao alvorecer do dia seguinte que era sábado, e o Sudário de Turim oferece-nos a imagem de como era o seu corpo estendido no túmulo durante aquele tempo, que foi breve cronologicamente (cerca de um dia e meio), mas imenso, infinito no seu valor e significado.

O Sábado Santo é o dia do escondimento de Deus, como se lê numa antiga Homilia: "O que aconteceu? Hoje sobre a terra há um grande silêncio, grande silêncio e solidão. Grande silêncio porque o Rei dorme... Deus morreu na carne e desceu para abalar o reino dos infernos" (Homilia sobre o Sábado Santo, pg 43, 439). No Credo, nós professamos que Jesus Cristo "padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia".

Queridos irmãos, no nosso tempo, especialmente depois de ter atravessado o século passado, a humanidade tornou-se particularmente sensível ao mistério do Sábado Santo. O escondimento de Deus faz parte da espiritualidade do homem contemporâneo, de maneira existencial, quase inconsciente, como um vazio no coração que se foi alargando cada vez mais. No final do século XIX, Nietzsche escreveu: "Deus está morto! E quem o matou fomos nós!". Esta célebre expressão, observando bem, é tomada quase ao pé da letra da tradição cristã, frequentemente a repetimos na Via-Sacra, talvez sem nos darmos conta plenamente do que dizemos. Depois de duas guerras mundiais, os lager e os gulag, Hiroshima e Nagasaki, a nossa época tornou-se um Sábado Santo em medida cada vez maior: a escuridão desse dia interpela todos os que se questionam sobre a vida, de modo particular interpela a nós, crentes. Também nós somos responsáveis por esta escuridão.

E, no entanto, a morte do Filho de Deus, de Jesus de Nazaré tem um aspecto oposto, totalmente positivo, fonte de consolação e de esperança. Isto faz-me pensar no facto de que o Santo Sudário se comporta como um documento "fotográfico", dotado de um "positivo" e de um "negativo". Com efeito, é exactamente assim: o mistério mais obscuro da fé, ao mesmo tempo, é o sinal mais luminoso de uma esperança que não tem confim. O Sábado Santo é a "terra de ninguém" entre a morte e a ressurreição, mas nesta "terra de ninguém" entrou Um, o Único, que a atravessou com os sinais da sua Paixão pelo homem: "Passio Christi. Passio hominis". O Sudário fala-nos precisamente deste momento, está a testemunhar aquele intervalo único e irrepetível na história da humanidade e do universo, no qual Deus, em Jesus Cristo, partilhou não só o nosso morrer, mas inclusive o nosso permanecer na morte. A solidariedade mais radical.

Naquele "tempo-além-do-tempo" Jesus Cristo "desceu à mansão dos mortos". O que significa esta expressão? Quer dizer que Deus, feito homem, chegou até ao ponto de entrar na solidão extrema e absoluta do homem, onde não chega raio de amor algum, onde reina o abandono total sem palavra de conforto alguma: "mansão dos mortos". Jesus Cristo, permanecendo na morte, ultrapassou a porta desta solidão última para nos guiar também a nós a ultrapassá-la com Ele. Todos nós sentimos algumas vezes uma sensação assustadora de abandono, e o que mais nos assusta é precisamente isto, como quando somos crianças, temos medo de estar sozinhos no escuro e só a presença de uma pessoa que nos ama pode dar-nos segurança. Aconteceu exactamente isto no Sábado Santo: no reino da morte ressoou a voz de Deus. Sucedeu o impensável: ou seja, que o Amor penetrou "na mansão dos mortos": também no escuro extremo da solidão humana mais absoluta nós podemos escutar uma voz que nos chama e encontrar alguém que nos pega pela mão e nos conduz para fora. O ser humano vive porque é amado e pode amar; e se até no espaço da morte penetrou o amor, então também lá chegou a vida. Na hora da extrema solidão nunca estaremos sozinhos: "Passio Christi. Passio hominis".

Este é o mistério do Sábado Santo! Exactamente do escuro da morte do Filho de Deus brilhou a luz de uma esperança nova: a luz da Ressurreição. E eis que, parece-me, olhando para este Santo Lençol com os olhos da fé se perceba algo desta luz. Com efeito, o Sudário foi imerso naquela escuridão profunda, mas ao mesmo tempo é luminoso; e eu penso que se milhões e milhões de pessoas vêm venerá-lo – sem contar quantos o contemplam através das imagens – é porque nele não vêem só a escuridão, mas também a luz; não tanto a derrota da vida e do amor, mas ao contrário, a vitória, a vitória da vida sobre a morte, do amor sobre o ódio; vêem a morte de Jesus mas entrevêem a sua Ressurreição; agora a vida pulsa no seio da morte, porque lá inabita o amor. Este é o poder do Sudário: do rosto deste "Homem do sofrimento", que traz em si a paixão do homem de todos os tempos e lugares, também as nossas paixões, os nossos sofrimentos, as nossas dificuldades, os nossos pecados – "Passio Christi. Passio hominis" – promana uma solene majestade, um senhorio paradoxal. Este rosto, estas mãos e estes pés, este lado, todo este corpo fala, ele próprio é uma palavra que podemos escutar no silêncio. De que modo fala o Sudário? Fala com o sangue, e o sangue é a vida! O Sudário é um Ícone escrito com o sangue; sangue de um homem flagelado, coroado de espinhos, crucificado e ferido no lado direito. A imagem impressa no Sudário é a de um morto, mas o sangue fala da sua vida. Cada traço de sangue fala de amor e de vida. Especialmente a mancha abundante próxima do lado, feita de sangue e água derramados abundantemente de uma grande ferida causada por um golpe de lança romana, aquele sangue e aquela água falam de vida. É como uma fonte que murmura no silêncio, e nós podemos ouvi-la, podemos escutá-la, no silêncio do Sábado Santo.

Queridos amigos, louvemos sempre o Senhor pelo seu amor fiel e misericordioso. Partindo deste lugar santo, levemos nos olhos a imagem do Sudário, levemos no coração esta palavra de amor e louvemos a Deus com uma vida plena de fé, de esperança e de caridade. Obrigado.

Fonte: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2010/may/documents/hf_ben-xvi_spe_20100502_meditazione-torino_po.html

Grande abraço a todos.
Pe. Anderson
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Mensagem por Pe. Anderson Sáb Abr 23, 2011 11:28 am

Caros amigos,

O seguinte texto vale muito a pena ser lido.

A descida do Senhor à mansão dos mortos
De uma antiga Homilia no grande Sábado Santo
(PG43,439.451.462-463) (Séc.IV)

Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.

Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.

O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará.

Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’

Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.

Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado.

Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê na minha face as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, tua beleza corrompida.

Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente as tuas mãos para a árvore do paraíso.

Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.

Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.

Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”.

Fonte: http://www.liturgiadashoras.org/oracao.html
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Mensagem por Petrus Romanus Sáb Abr 23, 2011 1:50 pm

Saudações Pe.

Uma dúvida: deve-se enfeitar o altar com flores no sabado santo? Aqui na minha paróquia o pe. mandou enfeitar e fiquei na duvida, então perguntei pra ele, ele me respondeu que deve-se enfeitar, então não satisfeito procurei ler a respeito e o que eu li me disse que o altar perdeu seus caracteres durante a sexta da paixão, e que perdemos as imagens na quaresma, e no sabado santo perdemos até a eucaristia, portanto o altar não deve estar enfeitado (ressalva que o arranjo de flores de Nossa Senhora Aparecida no Altar principal não foi retirado nem na sexta santa); com quem está a razão? O que deve ser feito?
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Mensagem por Flávio Roberto Brainer de Sáb Abr 23, 2011 9:22 pm

Caro Petrus,

Seus colóquios são muito bons no nosso fórum e nos levam a grandes reflexões e ensinamentos.

Como sou mais velho que você, tive a graça de viver um tempo na Igreja onde estas questões de liturgia eram observadas com muito rigor.

Na paróquia onde nasci e me criei (São José, Bezerros-PE), cresci vivendo em um tempo onde, na semana santa, no cerimonial da quinta feira, mais precisamente ao término da missa da ultima ceia, os sinos tocavam pela ultima vez no momento em que se entoava o canto do glória. A partir de então, o toque dos sinos era substituido pelo som da matraca, um instrumento de madeira que continha duas alças móveis de metal que ao baterem na madeira, produziam um barulho melancólico. Não se tocava qualquer instrumento musical depois do canto do glória. Os altares eram descobertos de suas toalhas, as imagens dos santos eram cobertas com cortinas da cor roxa, e o Santíssimo Sacramento era transportado para um altar reservado fora da nave da igreja, local este que simbolizava a prisão de Jesus depois da instituição da Eucaristia, como também simbolizava o Santo Sepulcro.

Todo este cenário tinha um significado que apontava para a meditação da paixão e morte de Nosso Senhor e representava o sentimento da ausência física de Jesus no seio da sua Igreja desde o término da ultima ceia até o momento da Ressurreição.

A celebração da Vigília Pascal era iniciada às escuras. Os fiéis vinham vestidos de branco. A única luz que podia ser acesa era o Círio Pascal, e depois as velas conduzidas pelos fiéis e que somente podiam ser acesas no fogo novo (do círio), momentos antes do cântico do "EXULTATE". A igreja permanecia na penumbra até o cântico do Glória, quando as luzes eram acesas, os sinos repicavam, os instrumentos voltavam a tocar, as cortinas que cobriam as imagens dos santos eram decerradas, os altares eram forrados pelos acólitos e ornamentados pelas zeladoras. Todo este cerimonial dava sentido a inauguração do tempo pascal que se inicia com a celebração da Ressurreição de Nosso Senhor.

Até hoje se conserva estes rituais na minha paróquia de origem, mas nem sempre é assim que acontece em todas as paróquias. Há muita flexibilidade nas questões litúrgicas. Confesso que quando passo a semana santa em outras paróquias, sinto saudade da minha paróquia de origem. Em outras palavras, toda esta riqueza de rituais nos conduz de forma natural a uma vivência bem mais profunda dos mistérios da paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor.

Só uma observação: Minha intenção não foi de responder ao seu questionamento, pois apesar de ter vivido essa experiência, não tenho propriedade a respeito das questões liturgicas do tempo contemporâneo por não conhecer nenhum documento da Igreja voltado para esta questão. Com certeza algum dos nossos tira-dúvidas deve esclarecer tudo sobre o seu questionamento.

Um grande abraço !!!
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Mensagem por Pe. Anderson Dom Abr 24, 2011 12:21 pm

Caro Flávio,

O que voce descreveu acima é o que eu vejo na maior parte dos lugares. É assim em Petrópolis e è assim nas paróquias que conheco aqui na Italia. É assim mesmo porque é assim como está previsto no Missal Romano e, quase sempre, esse é seguido (graças a Deus).

Sobre a pergunta do Petrus: as flores podem ser colocadas no altar para a celebraçao da Vigília Noturna, di Sábado Santo. Também é verdade que o sábado santo é dia de silêncio, de meditar na morte do Senhor e, por isso, nao deveria ter nada especial na Igreja. Mas a dificuldade surge que se deve preparar a Igreja no sábado para a celebraçao do Sabado a tarde e, desse modo, a Igreja é enfeitada logicamente antes. Se fosse possível enfeitar a Igreja poucas horas antes da celebraçao, seria o ideal, mas nem sempre isso é possivel, por questoes práticas.

Espero ter respondido. Grande abraço a todos.
Pe. Anderson
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