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Muito mais do que preservativos: trechos do livro "Luz do Mundo" (Bento XVI)

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Muito mais do que preservativos: trechos do livro "Luz do Mundo" (Bento XVI) Empty Muito mais do que preservativos: trechos do livro "Luz do Mundo" (Bento XVI)

Mensagem por Pe. Anderson Ter Nov 23, 2010 10:58 am

Caros amigos,

Livro de entrevistas com Peter Seewald, do Papa Bento XVI. A sinceridade do Papa è total. E uma conversa unica na Historia da Igreja: nunca um Papa falou tao diretamente dos problemas da Igreja e da Sociedade.

O Papa Bento XVI nao recusou a responder a nenhuma pergunta. E suas respostas inpressionam e impressionarao o mundo inteiro. Espero que desfrutem um pouco com os textos apresentados aqui e que todos tenham a coragem de ler o livro completo:


A alegria do cristianismo

Toda a minha vida foi sempre atravessada por um fio condutor, este: o cristianismo dá alegria, amplia os horizontes. Definitivamente, uma existência vivida sempre e sobretudo a partir do “contra” seria insuportável.

Um mendigo

Naquilo que diz respeito ao Papa, também ele é um pobre mendigo diante de Deus, ainda mais dos outros homens. Naturalmente rezo, antes de tudo, sempre ao Senhor, ao qual sou ligado, por assim dizer, por antiga amizade. Mas invoco também os santos. Sou muito amigo de Agostinho, de Boaventura e de Tomás de Aquino. A eles, portanto, digo: “Ajuda-me!”. A Mãe de Deus, então, é sempre um grande ponto de referência. Nesse sentido, insiro-me na Comunhão dos Santos. Juntamente com eles, reforçado por eles, falo também com o Deus bom, sobretudo mendigando, mas também agradecendo; ou contente, simplesmente.

As dificuldades

Tinha levado isso em conta. Mas, antes de tudo, devemos ser muito cuidadosos com a avaliação de um Papa, significativo ou não, quando ele ainda está vivo. Somente em um segundo momento se pode reconhecer qual lugar, na história em seu conjunto, tem uma determinada coisa ou pessoa. Mas que a atmosfera não seria sempre alegre era evidente, levando-se em conta a atual constelação mundial, com todas as forças de destruição que existem, com todas as contradições que nela vivem, com todas as ameaças e erros. Se eu tivesse continuado a receber sobretudo elogios, eu realmente deveria perguntar se estaria verdadeiramente anunciando todo o Evangelho.

O choque dos abusos

Os fatos não me causaram surpresa por completo. Na Congregação para a Doutrina da Fé, ocupei-me dos casos americanos; tinha visto também delinear-se a situação na Irlanda. Mas as dimensões, no entanto, foram um choque enorme. Desde a minha eleição à Sé de Pedro, havia repetidamente encontrado vítimas de abusos sexuais. Três anos e meio atrás, em outubro de 2006, em um discurso aos bispos irlandeses, havia pedido a eles “estabelecer a verdade acerca daquilo que havia acontecido no passado, tomar todos os atos necessários para que não se repetissem no futuro, assegurar que os princípios de justiça fossem plenamente respeitados e, sobretudo, curar as vítimas e todos aqueles que foram atingidos por esses crimes abomináveis”.

Ver o sacerdócio, de repente, manchado dessa maneira e, com isso, a própria Igreja Católica, foi difícil de suportar. Naquele momento, era importante, no entanto, não desviar o olhar do fato de que, na Igreja, o bem existe, e não sobretudo essas coisas terríveis.

Os mídia e os abusos

Era evidente que a ação dos mídia não seria guiada somente pela pura busca da verdade, mas que fosse também um prazer colocar a Igreja na berlinda e, se possível, desacreditá-la. E, todavia, era necessário que isto ficasse claro: desde que se trate de trazer luzes à verdade, devemos ser gratos. A verdade, unida ao amor entendido corretamente, é o valor número um. E, então, os mídia não teriam podido oferecer aqueles relatório se na própria Igreja o mal não existisse. Somente porque o mal estava dentro da Igreja, os outros puderam voltá-lo contra ela.

O progresso

Emerge a problemática do termo “progresso”. A modernidade procurou a sua estrada guiada pela ideia de progresso e de liberdade. Mas o que é o progresso? Hoje, vemos que o progresso pode ser também destrutivo. Por isso, devemos refletir sobre os critérios a adotar a fim de que o progresso seja verdadeiramente progresso.

Um exame de consciência

Para além de simples planos financeiros, um exame de consciência global é absolutamente inevitável. E a isso a Igreja procurou contribuir com a Encíclica Caritas in veritate. Não dá resposta a todos os problemas. Deseja ser um passo adiante para olhar as coisas a partir de outro ponto de vista, que não seja sobretudo aquele da factibilidade e do sucesso, mas do ponto de vista segundo o qual existe uma normatividade do amor pelo próximo que se orienta à vontade de Deus e não sobretudo aos nossos desejos. Nesse sentido, deveriam ser dados os impulsos para que realmente aconteça uma transformação das consciências.

A verdadeira intolerância

A verdadeira ameaça frente à qual nos encontramos é que a tolerância seja abolida em nome da própria tolerância. É o perigo de que a razão, a assim chamada razão ocidental, sustente ter finalmente reconhecido aquilo que é justo e avance assim a uma pretensão de totalidade que é inimiga da liberdade. Creio que é necessário denunciar com força essa ameaça. Ninguém é constrangido a ser cristão. Mas ninguém deve ser constrangido a viver segundo a “nova religião”, como se fosse a única e verdadeira, vinculante para toda a humanidade.

Mesquitas e burca

Os cristãos são tolerantes e, enquanto tal, permitem aos outros a sua peculiar compreensão de si. Alegramo-nos pelo fato de que, nos países do Golfo Árabe (Qatar, Abu Dhabi, Dubai, Quwait), há igrejas nas quais os cristãos podem celebrar a Missa, e esperamos que isso aconteça em todos os lugares. Por isso, é natural que também nós defendamos que os muçulmanos possam reunir-se em oração nas mesquitas.

No que diz respeito à burca, não vejo razão para uma proibição generalizada. Diz-se que algumas mulheres não a usam voluntariamente, e que, na realidade, há uma espécie de violência imposta nisso. É claro que, com isso, não se pode estar de acordo. Se, no entanto, se desejasse usá-la voluntariamente, não vejo por que deveríamos impedi-lo.

Cristianismo e modernidade

O ser cristão traz em si algo de vivo, de moderno, que atravessa, formando-a e plasmando-a, toda a minha modernidade, e que, portanto, em um certo sentido, verdadeiramente a abraça.

Aqui é necessária uma grande luta espiritual, como desejei mostrar com a recente instituição de um “Pontifício Conselho para a nova evangelização”. É importante que busquemos viver e pensar o Cristianismo de modo tal que assuma a modernidade boa e justa, e, portanto, ao mesmo tempo, afaste-se e distinga-se daquilo que está se tornando uma contra-religião.

Otimismo

Se poderia pensar olhando com superficialidade e restringindo o horizonte ao mundo somente ocidental. Mas, se se observa com mais atenção – e é aquilo que me é possível fazer graças às visitas dos bispos de todo o mundo e também através de tantos outros encontros -, percebe-se que o cristianismo, neste momento, está desenvolvendo também uma criatividade de todo nova [...].

A burocracia foi consumada e estancada. São iniciativas que nascem a partir do interior, da alegria dos jovens. O cristianismo, talvez, assumirá um rosto novo, talvez também um aspecto cultural diverso. O cristianismo não determina a opinião pública mundial, outros são a guia. E, todavia, o cristianismo é a força vital sem a qual também as outras coisas não poderiam continuar a existir. Por isso, com base naquilo que vejo e posso fazer experiência pessoal, sou muito otimista com relação ao fato de que o cristianismo encontre-se frente a uma dinâmica nova.

A droga

Tantos bispos, sobretudo aqueles da América Latina, dizem que, lá onde passa a estrada do cultivo e do comércio da droga – e isso acontece em grande parte daqueles países –, é como se um animal monstruoso e cativo estendesse a sua mão sobre aquele país para arruinar as pessoas. Creio que esta serpente do comércio e do consumo de droga que envolve o mundo seja um poder sobre o qual nem sempre chegamos a fazer uma ideia adequada. Destrói os jovens, destrói as famílias, leva à violência e ameaça o futuro de nações inteiras.

Também essa é uma terrível responsabilidade do Ocidente: tem necessidade de drogas e, assim, cria países que lhe forneçam aquilo que, então, terminará por consumi-los e destruí-los. Surgiu uma fome de felicidade que não pode saciar-se com aquilo que possui; e que, então, refugia-se, por assim dizer, no paraíso do diabo e destrói completamente o homem.

Na vinha do Senhor

Com efeito, eu tinha um papel de liderança, mas nunca fiz nada sozinho e trabalhei sempre em equipe; assim como um dos muitos trabalhadores na vinha do Senhor, que provavelmente fez o trabalho preparatório, mas ao mesmo tempo é aquele que não é feito para ser o primeiro e assumir a responsabilidade por tudo. Entendi que, ao lado dos grandes Papas, devem estar também Pontífices pequenos que dão sua própria contribuição. Assim, naquele momento, eu disse aquilo que senti realmente [...].

O Concílio Vaticano II ensinou-nos, com razão, que a estrutura da Igreja é constituída pela colegialidade; ou seja, o fato de que o Papa é o primeiro na partilha e não um monarca absoluto, que toma decisões sozinho e faz tudo por si só.

O judaísmo

Sem dúvidas. Devo dizer que desde o primeiro dia dos meus estudos teológicos ficou de algum modo clara a profunda unidade entre a Antiga e a Nova Aliança, entre as duas partes da nossa Sagrada Escritura. Compreendi que poderíamos ler o Novo Testamento somente em conjunto com aquilo que o precedeu, caso contrário não o teríamos compreendido. Então, naturalmente, tudo quanto aconteceu no Terceiro Reich atingiu-nos como alemães e tanto mais levou-nos a olhar para o Povo de Israel com humildade, vergonha e amor.

Na minha formação teológica, essas coisas foram interligadas e marcaram o caminho do meu pensamento teológico. Então ficou claro para mim – e também aqui em total continuidade com João Paulo II – que, no meu anúncio da fé cristã, devia ser fundamental essa nova conexão, amorosa e compreensiva, entre Israel e a Igreja, baseada no respeito ao modo de ser de cada um e da sua respectiva missão [...].

No entanto, nesse ponto, também na antiga liturgia pareceu-me necessário uma mudança. Na verdade, a fórmula era tal que feria verdadeiramente os judeus e, certamente, não expressava de forma positiva a grande, profunda unidade entre o Antigo e o Novo Testamento.

Por esse motivo, pensei que, na liturgia antiga, fosse necessária uma modificação, em particular, como eu disse, em referência ao nosso relacionamento com nossos amigos judeus. Modifiquei-a de modo tal que permanecesse contida a nossa fé, que Cristo é a salvação para todos. Não existem dois caminhos de salvação e, portanto, Cristo é também o Salvador dos judeus, e não apenas dos pagãos. Mas, também de modo tal que não se rezasse diretamente pela conversão dos judeus em um sentido missionário, mas para que o Senhor apresse o tempo da hora histórica em que todos seremos unidos. Por essa razão, os argumentos utilizados por uma série de teólogos polemicamente contra mim foram irresponsáveis e não fazem justiça ao que foi feito.

Pio XII

Pio XII fez todo o possível para salvar pessoas. Naturalmente nós podemos sempre perguntar: “Por que não protestou de maneira mais explícita?”. Creio que havia compreendido quais seriam as consequências de um protesto público. Sabemos que, devido a essa situação, pessoalmente sofreu muito. Sabia que, por si mesmo, deveria falar, mas a situação impedia-o.

Agora, pessoas mais razoáveis reconhecem que Pio XII salvou muitas vidas, mas argumentam que ele tinha ideias antiquadas sobre os judeus e que não estava à altura do Concílio Vaticano II. O problema, no entanto, não é esse. O importante é o que ele fez e o que tentou fazer, e creio que é preciso verdadeiramente reconhecer que era apenas um dos grandes justos e, como nenhum outro, salvou tantos e tantos judeus.

A sexualidade

Concentrar-se somente no preservativo significa banalizar a sexualidade, e essa banalização é precisamente a perigosa razão pela qual tantas e tantas pessoas não veem na sexualidade mais a expressão do seu amor, mas apenas uma espécie de droga, que administram por si só. Por isso, também a luta contra a banalização da sexualidade é parte do grande esforço para que a sexualidade seja valorizada positivamente e possa exercer o seu efeito positivo sobre o ser humano em sua totalidade.

A Igreja

Paulo, assim, não entendia a Igreja como instituição, como organização, mas como organismo vivo, no qual todos operam para o outro e um com o outro, sendo unidos a partir de Cristo. É uma imagem, mas uma imagem que conduz em profundidade e que é muito realista também somente pelo fato de que nós cremos que, na Eucaristia, verdadeiramente recebemos Cristo, o Ressuscitado. Se todos recebem o mesmo Cristo, então verdadeiramente nós todos somos reunidos neste novo corpo ressuscitado como o grande espaço de uma nova humanidade. É importante compreender isso, e, portanto, compreender a Igreja não como um aparato que deve fazer de tudo – embora o aparato pertença a ela, embora dentro dos limites –, mas antes como organismo vivente que provém do próprio Cristo.

A Humanae vitae

As perspectivas da Humanae vitae permanecem válidas, mas outra coisa é encontrar estradas humanamente percorríveis. Creio que serão sempre das minorias intimamente persuadidas pela justeza daquelas perspectivas e que, vivendo-as, ficam plenamente satisfeitas, de modo a tornar-se para outros fascinantes modelos a se seguir. Somos pecadores. Mas não devemos assumir esse fato como instância contra a verdade, quando aquela moral elevada não é vivida. Devemos procurar fazer todo o bem possível, e apoiarmo-nos e suportarmo-nos mutuamente. Expressar tudo isso também do ponto de vista pastoral, teológico e conceitual no contexto da atual sexologia e da pesquisa antropológica é uma grande tarefa para a qual devemos nos dedicar mais e melhor.

As mulheres

A formulação de João Paulo II é muito importante: “A Igreja não tem, de nenhum modo, a faculdade de conferir às mulheres a ordenação sacerdotal”. Não se trata de não desejar, mas de não poder. O Senhor deu uma forma à Igreja com os Doze e, então, com a sua sucessão, com os bispos e presbíteros (os sacerdotes). Não fomos nós que criamos esta forma da Igreja, mas é constitutiva a partir d’Ele. Segui-la é um ato de obediência, na situação atual talvez um dos atos de obediência mais pesados. Mas exatamente isso é importante, que a Igreja mostre não ser um regime arbitrário. Não podemos fazer aquilo que desejamos. Há, ao invés, uma vontade do Senhor para nós, à qual aderimos, também se isso é cansativo e difícil na cultura e na civilização de hoje.

Por outro lado, as funções confiadas às mulheres da Igreja são tão grandes e significativas que não se pode falar de discriminação. Seria assim se o sacerdócio fosse uma espécie de domínio, enquanto, ao contrário, deve ser completamente serviço. Se se dá uma olhada à história da Igreja, então se percebe que o significado das mulheres – de Maria a Mônica até Madre Teresa de Calcutá – é tão proeminente que, de muitas maneiras, as mulheres definem o rosto da Igreja mais do que os homens.

Os novíssimos

É uma questão muito séria. A nossa pregação, o nosso anúncio efetivamente é amplamente orientado, de modo unilateral, à criação de um mundo melhor, enquanto o mundo realmente melhor quase não é mais mencionado. Aqui devemos fazer um exame de consciência.

Claro, nós tentamos conversar com o público, dizendo-lhes o que está em nosso horizonte. Mas a nossa missão é, ao mesmo tempo, romper esse horizonte, ampliá-lo, e olhar as coisas últimas.

Os novíssimos (as últimas coisas) são como pão duro para os homens de hoje. Eles parecem irreais. Gostariam de colocar em seu lugar respostas concretas para o hoje, soluções para as tribulações cotidianas. Mas são respostas que ficam pela metade se também não permitem apresentar e reconhecer que eu me estendo para além desta vida material, que há um julgamento, e que há graça e eternidade. Nesse sentido, devemos também encontrar novas palavras e formas para permitir que o homem quebre a barreira de som do finito.

A vinda de Cristo

É importante que, em toda a época, esteja junto o Senhor. Que também nós mesmos, aqui e agora, estamos sob o juízo do Senhor e nos deixamos julgar pelo seu tribunal. Discutia-se acerca de uma dúplice vinda de Cristo, uma em Belém e uma no final dos tempos, até quando São Bernardo de Claraval falou de um Adventus medius, de uma vinda intermediária, através da qual Ele periodicamente entra na história.

Creio que tenha compreendido a tonalidade justa. Nós não podemos estabelecer quando o mundo acabará. Cristo mesmo disse que ninguém o sabe, nem mesmo o Filho. Devemos, no entanto, permanecer, por assim dizer, sempre permanecer esperando a sua vinda e, sobretudo, estarmos certos de que, nas dores, Ele está perto. Ao mesmo tempo, devemos saber que, pelas nossas ações, estamos sob o seu juízo.

Grande abraço e que Deus abençoe a todos.
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Muito mais do que preservativos: trechos do livro "Luz do Mundo" (Bento XVI) Empty “LUZ DO MUNDO”: UM LIVRO QUE FAZ HISTÓRIA

Mensagem por Pe. Anderson Qua Nov 24, 2010 5:57 pm

Caros amigos,

Vejam essa reportagem:


Por Michaela Koller
ROMA, quarta-feira, 24 de novembro de 2010 (ZENIT.org) - O lançamento do livro-entrevista do Papa Bento XVI, "Luz do mundo", recebeu hoje uma enorme acolhida mundial. A demanda tão extraordinária deste livro do jornalista alemão Peter Seewald levou a editora alemã Herder a dobrar o número de exemplares nesta primeira semana.

Inúmeros comunicadores de diversas partes do mundo estavam se preparando para o grande impacto das respostas do Pontífice. Falava-se da força explosiva dos conteúdos, inclusive de uma revolução espiritual.

Mas as respostas do Papa, apresentadas nestas 240 páginas, não têm, à primeira vista, nenhum conteúdo revolucionário. A mensagem de Bento XVI, recolhida na intimidade de diálogos pessoais com Seewald, destaca-se de forma extraordinária porque é Evangelho atualizado, Boa Nova de hoje.

Bento XVI se apresenta, nessas linhas, a partir de um prisma pessoal, tornando transparentes suas mudanças de perspectiva ao concretizar sua fé na história. É uma mensagem atualizada a partir da realidade de mudança que estamos vivendo hoje.

E então surge a pergunta chave de Peter Seewald: "Segundo o Evangelho de São João, Jesus diz, em uma passagem decisiva, que o importante é o mandato do Pai: ‘E eu sei: o que ele ordena é vida eterna'. É por isso que Jesus veio ao mundo?".

O Santo Padre responde: "Sem dúvida alguma. Disso se trata: de que cheguemos a ser capazes de Deus e, assim, possamos entrar na vida autêntica, na vida eterna. Realmente, Ele veio para que conheçamos a verdade. Para que possamos tocar Deus. Para que a porta esteja aberta para nós. Para que encontremos a vida real, a que não está submetida à morte".

O núcleo dessas conversas é a grande mensagem de Bento XVI, que convida o mundo à santidade. Isso não deve ser perdido de vista quando se vai revisando as notícias da primeira página dos diversos jornais, inclusive da imprensa sensacionalista, falando-nos de preservativos ou da opinião de Bento XVI sobre o uso da burca.

Cristo é o centro. Esse Cristo que diz aos seus apóstolos: "Vós sois a luz do mundo". A grande entrevista, assim, dá continuidade à pregação do 265º Sucessor de Pedro na Santa Sé. Além disso, vai adquirindo uma forma de imediatismo inaudito como palavra direta e espontânea. Não é uma doutrina ex cathedra, deduzida das grandes verdades, senão que induz o leitor, vai brotando de um coração íntegro e enamorado, como grande testemunho pessoal de fé e síntese de vida impressionante.

A palavra impressa desse livro deixou a voz direta de Bento XVI quase sem alterações, como garante o autor no começo. Isso oferece ao leitor a possibilidade de uma composição de lugar excepcional: pode-se imaginar que se tem o "Papa Ratzinger" face a face no sofá. Pode-se ouvir sua voz no próprio idioma, enquanto Bento XVI vai abrindo amplamente a porta do seu entendimento, do seu coração e da sua alma.

Ao leitor, vai se revelando um personagem ágil, humilde, cheio de bondade, que sabe perdoar, mas que ao mesmo tempo se apresenta muito vulnerável. Da mesma forma, o livro tem um tom tão familiar e próximo, que lembra a experiência da comunidade primitiva no começo da Igreja.
Se o pontificado anterior foi o dos grandes gestos e imagens, este pontificado é o das grandes palavras. Peter Seewald conseguiu trazer à luz este dom de Bento com um emaranhado de perguntas seletas, um entretecido de política, perguntas pessoais, pastorais e esclarecimentos teológicos.


Seewald apresenta, assim, um diálogo entre o Papa e a sociedade. Põe em jogo seu amplo conhecimento e formula perguntas de amplitude global. Dessa forma, o Pontífice se converte ao mesmo tempo em ouvinte do mundo inteiro.

O jornalista faz perguntas que revelam sua sintonia com a postura crítica de Bento XVI diante da cultura atual. Ao mesmo tempo, fiel à sua profissão de comunicador, faz perguntas que vão indagando sobre temas delicados e realidades que são para o Papa causa de profunda dor.

O livro não só redigiu um capítulo importante da história da Igreja, senão que oferece pautas para um jornalismo de qualidade, que vai elevando o nível dos padrões de trabalho a um compromisso por parte dos católicos nos meios de comunicação, cujo objetivo é transmitir uma mensagem eficaz ao mundo atual.

É uma surpresa grande e positiva ouvir Bento XVI falar do bispo Richard Williamson, da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Pela primeira vez, o Papa revela que ele não teria assinado o decreto sobre a revogação da excomunhão do britânico se tivesse sabido da sua negação das câmaras de gás. "Não. Então seria preciso ter separado primeiramente o caso Williamson. Mas, infelizmente, nenhum de nós havia feito uma busca na internet, para saber, assim, de quem se tratava", disse literalmente o Pontífice.

Ao assunto Williamson está vinculada a relação da Igreja Católica com os judeus e a relação com o Estado de Israel. Depois do alvoroço sobre as declarações dos padres do Sínodo do Oriente Médio sobre o conflito entre Israel e Palestina, aos "nossos pais e irmãos" chega mais uma vez uma clara confissão papal sobre o direito de existência de Israel. Isso não foi afirmado tão explicitamente pelos bispos da região, que condenaram, em seu documento final, o "antissemitismo", mas não o "antissionismo".

"Para mim, foi muito emocionante com que cordialidade me recebeu o presidente Peres, que é uma grande personalidade", conta o cabeça da Igreja Católica sobre sua visita a Israel em maio de 2009. "Ele carrega o peso de uma lembrança difícil. Como você sabe, seu pai foi preso em uma sinagoga à qual depois se ateou fogo. Mas ele veio até mim com uma grande abertura e sabendo que lutamos por valores comuns e pela paz, pela configuração do futuro e que, nisso, a questão da existência de Israel desempenha um papel importante".

O livro esclarece que não é verdade o que a mídia difundiu há algumas semanas sobre as declarações referentes à relação com o Islã: o Papa Bento não se distancia de forma alguma do discurso de Ratisbona: "A consideração política não levou em consideração o conjunto, senão que tirou um fragmento do contexto e o converteu em um ato político, que em si não era".

Ao ser perguntado pela estratégia diante dos casos de sacerdotes que vivem uma relação com uma mulher ou que formaram uma família em segredo, o Papa comenta: "Quando um sacerdote coabita com uma mulher, é preciso verificar se existe uma verdadeira vontade matrimonial e se poderiam formar um bom casal. Se for assim, eles têm de seguir esse caminho. Quando se trata de uma falta de vontade moral, mas existe um vínculo interior real, é preciso tentar encontrar caminhos de cura para ele e para ela".

O problema fundamental, confirma o Papa, "é a honradez". Além disso, existe a importância do "respeito pela verdade dessas duas pessoas e dos filhos, a fim de encontrar a solução correta".

Na entrevista, vislumbra-se também o conceito do amor de Bento, um tipo de amor que não permite separar a verdade do amor, que não deve ser confundido com um falso conceito de misericórdia.

Bento XVI confessa seu profundo horror diante dos casos de abusos em instituições católicas: "Hoje temos de aprender novamente que o amor ao pecador e ao danificado está em seu reto equilíbrio mediante um castigo ao pecador, aplicado de forma possível e adequada". Bento XVI não se preocupa em conservar a boa imagem da Igreja, senão que coloca o peso na credibilidade do testemunho daqueles que se consagraram ao seguimento de Cristo. Esta é a meta à qual o livro aponta com seu título, "Luz do mundo".

"Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal perde seu sabor, com que se salgará? Não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e pisado pelas pessoas.
Vós sois a luz do mundo. Uma cidade construída sobre a montanha não fica escondida.
Não se acende uma lâmpada para colocá-la debaixo de uma caixa, mas sim no candelabro, onde ela brilha para todos os que estão em casa.
Assim também brilhe a vossa luz diante das pessoas, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus" (Mateus 5,13-16).

Grande abraço a todos.
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