Apenas votar em Políticos Católicos???
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Leo Santos
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Quem tem boca vai a Roma! :: Cristianismo hoje: discussões fraternas com outros grupos cristãos. :: Papo Cabeça.
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Apenas votar em Políticos Católicos???
Olá!
Bem, a intenção ao criar este tópico não é falar nomes e números de candidatos em quem devemos votar.
Esclarecimentos:
- Devemos votar apenas em políticos católicos???
- Devemos votar em políticos que são "anti-cristãos¹"???
¹"Anti-cristãos": políticos que possuem proposta(s) não condizente(s) com a moral cristã.
(Ex: políticos que defendem o aborto)
abraços
Bem, a intenção ao criar este tópico não é falar nomes e números de candidatos em quem devemos votar.
Esclarecimentos:
- Devemos votar apenas em políticos católicos???
- Devemos votar em políticos que são "anti-cristãos¹"???
¹"Anti-cristãos": políticos que possuem proposta(s) não condizente(s) com a moral cristã.
(Ex: políticos que defendem o aborto)
abraços
João- Mensagens : 85
Data de inscrição : 02/09/2008
Idade : 32
Localização : Petrópolis, RJ (São Cristóvão)
Re: Apenas votar em Políticos Católicos???
A doutrina social da Igreja nos orienta a votarmos em candidatos que busquem o bem comum e que não tenham bandeiras anticristãs.
Não é necessários que tais conditatos sejam católicos apenas que não defendam interesses contrários à dignidade da pessoa humana e à doutrina da igreja.
Não é necessários que tais conditatos sejam católicos apenas que não defendam interesses contrários à dignidade da pessoa humana e à doutrina da igreja.
alessandro- Tira-dúvidas oficial
- Mensagens : 750
Data de inscrição : 16/08/2008
Re: Apenas votar em Políticos Católicos???
acho, inclusive, muito complicada a promoção de politicos atraves do hasteamento de uma bandeira catolica ou de qualquer outra religião!
pois isso pode demonstrar na verdade uma falta de propostas politicas firmes e coerentes fazendo da religiao um palanque!!
(lógico que isso não eh uma regra, mas e bom ficar de olho!)
pois isso pode demonstrar na verdade uma falta de propostas politicas firmes e coerentes fazendo da religiao um palanque!!
(lógico que isso não eh uma regra, mas e bom ficar de olho!)
Breno- Mensagens : 22
Data de inscrição : 27/09/2008
Localização : petropolis
Re: Apenas votar em Políticos Católicos???
Concordo Breno, fugindo um pouco do tema da pergunta, acho que obrigação nossa é incentivar a não eleição de candidatos que tenham propostas que ferem o cristianismo, como por exemplo:A legalização do aborto, passeatas homossexuais, legalização das drogas. Na medida em que tomamos conhecimentos de políticos com essa intenção temos sim que divulgar e fazer campanha pra que não sejam eleitos.
Abraço.
Abraço.
Moco- Mensagens : 76
Data de inscrição : 27/08/2008
Idade : 34
Localização : Petrópolis
Re: Apenas votar em Políticos Católicos???
Não acho que se deva fazer bandeira a candidato algum. Você chega, vota de acordo com sua consicência e só.Sim, de preferência em um católico, mas não pra fazer bandeira pra ele.Como o voto é individual, assim o é a consicência de cada um.
Leo Santos- Mensagens : 67
Data de inscrição : 08/12/2008
Idade : 48
Localização : Petropolis -RJ
Re: Apenas votar em Políticos Católicos???
Acho que o melhor mesmo, seria se o católico de verdade não se envolvesse com a política. Claro! Precisamos de políticos honestos também, que lutem pelos valores humanos, pela vida, etc. Mas, pelo que vejo da política, no dia-a-dia, é meio difícil alguém entrar lá para "fazer a diferença". Às vezes o indivíduo é até obrigado a fazer coisas contrárias à sua opinião por ameaças, etc.
Da matéria Política (Política em si) não sei nada... Mas da prática, digamos que "a gente fica sabendo".
Concordo que não devemos tomar partido de nenhum deles, nem discutir por isso e tal. Mas, descordo do "de preferência votar em políticos católicos", tanto pelo fato de que a maioria da população se diz católica daí um desses pode aprovar coisas super contrárias à nossa religião dizendo ser católico (motivo para escândalos: "olha o que o católico faz..."), quanto pelo que o Alessandro citou ali em cima da Doutrina Social, basta procurar um candidato que defenda certos valores e preze pelo bem comum.
Bom, é o que eu penso...
Fiquem com Deus
Da matéria Política (Política em si) não sei nada... Mas da prática, digamos que "a gente fica sabendo".
Concordo que não devemos tomar partido de nenhum deles, nem discutir por isso e tal. Mas, descordo do "de preferência votar em políticos católicos", tanto pelo fato de que a maioria da população se diz católica daí um desses pode aprovar coisas super contrárias à nossa religião dizendo ser católico (motivo para escândalos: "olha o que o católico faz..."), quanto pelo que o Alessandro citou ali em cima da Doutrina Social, basta procurar um candidato que defenda certos valores e preze pelo bem comum.
Bom, é o que eu penso...
Fiquem com Deus
Rafaela Botelho- Acolhedora
- Mensagens : 530
Data de inscrição : 03/10/2008
Re: Apenas votar em Políticos Católicos???
discordo desse ponto que o bom seria se o católico nao se envolvesse em política.
bento XVI criticou justamente a falta de lideranças católicas no cenário político-cultura da américa latina...
imagina se fugíssemos diante de tudo o que é desafiante. acredito que tem a vocação para a política tem que se preparar para um certo martírio, mas nao deve virar as costas.
afinal,
O alimento da audácia dos maus é a covardia dos bons.
abraços
bento XVI criticou justamente a falta de lideranças católicas no cenário político-cultura da américa latina...
imagina se fugíssemos diante de tudo o que é desafiante. acredito que tem a vocação para a política tem que se preparar para um certo martírio, mas nao deve virar as costas.
afinal,
O alimento da audácia dos maus é a covardia dos bons.
abraços
alessandro- Tira-dúvidas oficial
- Mensagens : 750
Data de inscrição : 16/08/2008
Re: Apenas votar em Políticos Católicos???
Ah! Então acho que antes deveríamos investir muito numa formação para estes católicos que vão se envolver com a política... Porque além de ser difícil não se deixar corromper lá, os que não aceitam morrem.
Investir muito na formação ou eleger uma massa católica.
Como disse, de política em si não entendo...
Investir muito na formação ou eleger uma massa católica.
Como disse, de política em si não entendo...
Rafaela Botelho- Acolhedora
- Mensagens : 530
Data de inscrição : 03/10/2008
Re: Apenas votar em Políticos Católicos???
No Rio houve uma planfetagem contra a Jandira Feghali, porque ela é comunista, ateia e defende o aborto. O TRE foi pra cima da diocese do Rio e confiscou esses planfetos contra a candidatura dela à prefeitura da cidade.Dizia que católico não pode votar numa abortista e ateia.Eu não votaria nela, detesto o comunismo e lamento que ainda esteja vivo com a presença do pc do b no congresso nacional.
Leo Santos- Mensagens : 67
Data de inscrição : 08/12/2008
Idade : 48
Localização : Petropolis -RJ
Re: Apenas votar em Políticos Católicos???
O voto político é um acto meramente MUNDANO.
No entanto, se estiverem em alto risco altos valores espirituais, devemos contribuir, quanto temos esse direito para que esses altos valores espirituais não corram perigo.
Contudo a mente de todo o cristão deve ser a sua esperança contínua no Reino de Cristo, pois só aí é que vai habitar a justiça. (2ª Pedro 3,13)
No entanto, se estiverem em alto risco altos valores espirituais, devemos contribuir, quanto temos esse direito para que esses altos valores espirituais não corram perigo.
Contudo a mente de todo o cristão deve ser a sua esperança contínua no Reino de Cristo, pois só aí é que vai habitar a justiça. (2ª Pedro 3,13)
Re: Apenas votar em Políticos Católicos???
Não creio que o voto político seja algo meramente mundano.
O cristão deve sim usufruir deste direito de cidadania para também contribuir para o bem da sociedade.
É uma forma de lutar pelo bem comum, o que é inerente ao cristão.
A política, usando termos abrangentes, - sei que há exceções - está altamente corrompida, o que é reflexo também da corrupção de nossa sociedade. Afinal, políticos não caem do céu, eles são eleitos do meio da sociedade, para representá-la.
Portanto, como nos exortou o nosso Papa no Documento de Aparecida (conclusão do V CELAM), e como nos recordou o Alessando: é necessária a presença de lideranças católicas, para que os direitos da pessoa humana e os valores morais, defendidos pela Igreja e que fundamentam nossa sociedade, sejam preservados!
Abraços a todos!
O cristão deve sim usufruir deste direito de cidadania para também contribuir para o bem da sociedade.
É uma forma de lutar pelo bem comum, o que é inerente ao cristão.
A política, usando termos abrangentes, - sei que há exceções - está altamente corrompida, o que é reflexo também da corrupção de nossa sociedade. Afinal, políticos não caem do céu, eles são eleitos do meio da sociedade, para representá-la.
Portanto, como nos exortou o nosso Papa no Documento de Aparecida (conclusão do V CELAM), e como nos recordou o Alessando: é necessária a presença de lideranças católicas, para que os direitos da pessoa humana e os valores morais, defendidos pela Igreja e que fundamentam nossa sociedade, sejam preservados!
Abraços a todos!
Daiane Fonseca Costa- Mensagens : 8
Data de inscrição : 23/12/2010
Idade : 31
Localização : Petrópolis
O POLÍTICO CATÓLICO, LAICISMO E CRISTIANISMO
Caros amigos,
Deixo aqui esse texto para a reflexao desse tema. Quando puder, participo pessoalmente nesse tópico.
O POLÍTICO CATÓLICO, LAICISMO E CRISTIANISMO
Por Dom Giampaolo Crepaldi*
Para o político católico, o laicismo é um valor adquirido que deve ser defendido. Isto significa que a esfera política é independente da eclesiástica, que a política e a religião pertencem a âmbitos diferentes.
O cristianismo contribuiu bastante para o estabelecimento do laicismo autêntico. O cristianismo não é uma religião fundamentalista. O texto sagrado em que ele se inspira não deve ser lido ao pé da letra, e sim interpretado; a autoridade universal do Papa libera os cristãos das excessivas sujeições políticas nacionais; Deus confiou a construção do mundo à livre e responsável participação do homem. Não significa que a sociedade e a política sejam totalmente alheias à religião cristã, que não tenham nada a ver com ela. A sociedade precisa da religião de maneira concreta para manter um nível sadio de laicismo.
O cristianismo colabora com este objetivo, porque não impede a sociedade de ser legitimamente autônoma e ao mesmo tempo a sustenta e ilumina com sua própria mensagem religiosa. Poderíamos até dizer que o cristianismo a impulsiona a ser ela mesma, por explicitar a sua plena vocação e pedir-lhe o máximo das suas capacidades, sem se fechar em si mesma.
A sociedade que fecha as portas para a religião e para o cristianismo fecha portas para si mesma: ela não permite que as pessoas e as relações sociais respirem, sufocando as suas possibilidades com uma suposta autossuficiência. O cristianismo não teme enfrentamentos com outras religiões neste ponto: é no Deus feito homem que reside a valorização máxima da dimensão humana, familiar, social e ao mesmo tempo a sua total iluminação por Deus. Quando a razão política teme o cristianismo, é porque já decidiu optar pela própria autossuficiência, fechando-se para uma mensagem que na verdade a valorizaria.
Tende-se hoje a considerar que o laicismo é a neutralidade do espaço público aos absolutos religiosos. Um espaço em que os absolutos religiosos não deveriam intervir por dois motivos: primeiro, porque numa democracia não haveria espaço para os absolutos; segundo, porque os absolutos religiosos seriam irracionais, ao passo que o espaço público deveria alimentar-se de um discurso racional. Ocorre que este espaço permaneceria vazio, e nesse vazio haveria lugar para novos absolutos inimigos do homem, para novos deuses.
Mas examinemos antes os dois princípios vistos até agora: a democracia é incompatível com os princípios absolutos? A religião é irracional? Não é verdade que a democracia pressuponha o relativismo moral e religioso, nem é verdade que os princípios absolutos sejam necessariamente violentos e opressivos. Mas poderíamos dizer o contrário: a falta de referências absolutas gera uma luta de todos contra todos, onde tem razão quem é mais forte. A democracia também se arrisca a reduzir-se à força da maioria. Por isso existe a necessidade de que os cidadãos acreditem em princípios absolutos, como por exemplo a dignidade de cada pessoa humana, a liberdade, a justiça, etc. Por outro lado, a democracia se torna apenas um procedimento, mas estes podem mudar facilmente se não estão repletos do que é substancial.
A substância da democracia não é o procedimento, mas a dignidade da pessoa, que deveria ser considerada um valor absoluto. E como pode ser considerada um valor absoluto se não se baseia em Deus? Como bem observou Tocqueville a respeito da jovem democracia americana, a religião está estreitamente conectada com a liberdade, e a liberdade pode diminuir inclusive nos regimes democráticos.
Passamos ao segundo ponto: a religião é irracional? Não há dúvida de que existem formas de religião irracionais, total ou parcialmente. Mas não é o caso do cristianismo.
Existem as religiões do mito, que entendem a divindade como uma união de forças obscuras e indecifráveis, arbitrárias e estranhas, que a religião tenta tornar suas aliadas. Há também as religiões do Logos, como a judaico-cristã, que crê num Deus que é Verdade e Amor.
Esta religião é razoável e não contradiz nenhuma verdade racional; antes, vincula-se a elas complementando-as, e não exige do homem a renúncia a tudo o que o torna verdadeiramente homem, para ser cristão. Não é aceitável, portanto, a idéia de que a religião, seja qual for, é, pela sua natureza, irracional. Isto certamente não vale para o cristianismo. Apesar disso, muitos entendem o laicismo como neutralidade, como uma expulsão da religião do espaço público. A ideia de eliminar a celebração do Natal, de impedir a exposição de símbolos religiosos em espaços públicos, de proibir a ação missionária que divulga aos outros a própria fé, são algumas expressões dessa visão do laicismo como espaço neutro, o que é visto especialmente no modelo francês. Nestes casos não se demonstra absolutamente a mencionada neutralidade.
Uma parede sem um crucifixo não é neutra: é uma parede sem crucifixo. Um espaço público sem Deus não é neutro: ele não tem Deus. O estado que impede a toda religião manifestar-se em público, talvez com a desculpa de defender a liberdade de religião, não é neutro, porque se posiciona a favor do laicismo ou do ateísmo e assume a responsabilidade de relegar a religião ao âmbito privado. Em muitos casos, nasce a religião do estado, a religião da antirreligião.
Entre a presença ou ausência de Deus no espaço público não há meio termo; não há neutralidade. Eliminar a Deus do espaço público significa construir um mundo sem Deus. Qualquer um diferencia um laicismo forte de um laicismo fraco. O primeiro se limitaria a admitir no espaço público todas as opções, compreendida a não religiosa; a segunda admite também formas de oposição à religião. Mas esta diferenciação não convence, porque um mundo sem Deus já é um mundo contra Deus. Excluir a Deus, mesmo que Ele não seja combatido, significa construir um mundo sem referências a Ele.
Por este motivo, o político católico não pode admitir nem colaborar com o laicismo entendido como neutralidade, porque isto significa dar espaço a uma nova razão do estado que, prejudicando a religião, prejudicará a si mesma. O político católico se oporá a esta visão, seja por razões religiosas, das quais ele não pode separar-se, seja por razões políticas, para impedir que nasça uma nova religião do estado prejudicial à liberdade das pessoas.
--- --- ---
*Dom Giampaolo Crepaldi é arcebispo de Trieste, presidente da Comissão "Caritas in Veritate" do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) e presidente do Observatório Internacional "Cardeal Van Thuan" sobre a Doutrina Social da Igreja.
Grande abraço a todos.
Deixo aqui esse texto para a reflexao desse tema. Quando puder, participo pessoalmente nesse tópico.
O POLÍTICO CATÓLICO, LAICISMO E CRISTIANISMO
Por Dom Giampaolo Crepaldi*
Para o político católico, o laicismo é um valor adquirido que deve ser defendido. Isto significa que a esfera política é independente da eclesiástica, que a política e a religião pertencem a âmbitos diferentes.
O cristianismo contribuiu bastante para o estabelecimento do laicismo autêntico. O cristianismo não é uma religião fundamentalista. O texto sagrado em que ele se inspira não deve ser lido ao pé da letra, e sim interpretado; a autoridade universal do Papa libera os cristãos das excessivas sujeições políticas nacionais; Deus confiou a construção do mundo à livre e responsável participação do homem. Não significa que a sociedade e a política sejam totalmente alheias à religião cristã, que não tenham nada a ver com ela. A sociedade precisa da religião de maneira concreta para manter um nível sadio de laicismo.
O cristianismo colabora com este objetivo, porque não impede a sociedade de ser legitimamente autônoma e ao mesmo tempo a sustenta e ilumina com sua própria mensagem religiosa. Poderíamos até dizer que o cristianismo a impulsiona a ser ela mesma, por explicitar a sua plena vocação e pedir-lhe o máximo das suas capacidades, sem se fechar em si mesma.
A sociedade que fecha as portas para a religião e para o cristianismo fecha portas para si mesma: ela não permite que as pessoas e as relações sociais respirem, sufocando as suas possibilidades com uma suposta autossuficiência. O cristianismo não teme enfrentamentos com outras religiões neste ponto: é no Deus feito homem que reside a valorização máxima da dimensão humana, familiar, social e ao mesmo tempo a sua total iluminação por Deus. Quando a razão política teme o cristianismo, é porque já decidiu optar pela própria autossuficiência, fechando-se para uma mensagem que na verdade a valorizaria.
Tende-se hoje a considerar que o laicismo é a neutralidade do espaço público aos absolutos religiosos. Um espaço em que os absolutos religiosos não deveriam intervir por dois motivos: primeiro, porque numa democracia não haveria espaço para os absolutos; segundo, porque os absolutos religiosos seriam irracionais, ao passo que o espaço público deveria alimentar-se de um discurso racional. Ocorre que este espaço permaneceria vazio, e nesse vazio haveria lugar para novos absolutos inimigos do homem, para novos deuses.
Mas examinemos antes os dois princípios vistos até agora: a democracia é incompatível com os princípios absolutos? A religião é irracional? Não é verdade que a democracia pressuponha o relativismo moral e religioso, nem é verdade que os princípios absolutos sejam necessariamente violentos e opressivos. Mas poderíamos dizer o contrário: a falta de referências absolutas gera uma luta de todos contra todos, onde tem razão quem é mais forte. A democracia também se arrisca a reduzir-se à força da maioria. Por isso existe a necessidade de que os cidadãos acreditem em princípios absolutos, como por exemplo a dignidade de cada pessoa humana, a liberdade, a justiça, etc. Por outro lado, a democracia se torna apenas um procedimento, mas estes podem mudar facilmente se não estão repletos do que é substancial.
A substância da democracia não é o procedimento, mas a dignidade da pessoa, que deveria ser considerada um valor absoluto. E como pode ser considerada um valor absoluto se não se baseia em Deus? Como bem observou Tocqueville a respeito da jovem democracia americana, a religião está estreitamente conectada com a liberdade, e a liberdade pode diminuir inclusive nos regimes democráticos.
Passamos ao segundo ponto: a religião é irracional? Não há dúvida de que existem formas de religião irracionais, total ou parcialmente. Mas não é o caso do cristianismo.
Existem as religiões do mito, que entendem a divindade como uma união de forças obscuras e indecifráveis, arbitrárias e estranhas, que a religião tenta tornar suas aliadas. Há também as religiões do Logos, como a judaico-cristã, que crê num Deus que é Verdade e Amor.
Esta religião é razoável e não contradiz nenhuma verdade racional; antes, vincula-se a elas complementando-as, e não exige do homem a renúncia a tudo o que o torna verdadeiramente homem, para ser cristão. Não é aceitável, portanto, a idéia de que a religião, seja qual for, é, pela sua natureza, irracional. Isto certamente não vale para o cristianismo. Apesar disso, muitos entendem o laicismo como neutralidade, como uma expulsão da religião do espaço público. A ideia de eliminar a celebração do Natal, de impedir a exposição de símbolos religiosos em espaços públicos, de proibir a ação missionária que divulga aos outros a própria fé, são algumas expressões dessa visão do laicismo como espaço neutro, o que é visto especialmente no modelo francês. Nestes casos não se demonstra absolutamente a mencionada neutralidade.
Uma parede sem um crucifixo não é neutra: é uma parede sem crucifixo. Um espaço público sem Deus não é neutro: ele não tem Deus. O estado que impede a toda religião manifestar-se em público, talvez com a desculpa de defender a liberdade de religião, não é neutro, porque se posiciona a favor do laicismo ou do ateísmo e assume a responsabilidade de relegar a religião ao âmbito privado. Em muitos casos, nasce a religião do estado, a religião da antirreligião.
Entre a presença ou ausência de Deus no espaço público não há meio termo; não há neutralidade. Eliminar a Deus do espaço público significa construir um mundo sem Deus. Qualquer um diferencia um laicismo forte de um laicismo fraco. O primeiro se limitaria a admitir no espaço público todas as opções, compreendida a não religiosa; a segunda admite também formas de oposição à religião. Mas esta diferenciação não convence, porque um mundo sem Deus já é um mundo contra Deus. Excluir a Deus, mesmo que Ele não seja combatido, significa construir um mundo sem referências a Ele.
Por este motivo, o político católico não pode admitir nem colaborar com o laicismo entendido como neutralidade, porque isto significa dar espaço a uma nova razão do estado que, prejudicando a religião, prejudicará a si mesma. O político católico se oporá a esta visão, seja por razões religiosas, das quais ele não pode separar-se, seja por razões políticas, para impedir que nasça uma nova religião do estado prejudicial à liberdade das pessoas.
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*Dom Giampaolo Crepaldi é arcebispo de Trieste, presidente da Comissão "Caritas in Veritate" do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) e presidente do Observatório Internacional "Cardeal Van Thuan" sobre a Doutrina Social da Igreja.
Grande abraço a todos.
Pe. Anderson- Admin
- Mensagens : 952
Data de inscrição : 10/09/2008
Idade : 42
Localização : Roma
Re: Apenas votar em Políticos Católicos???
Padre Anderson, para complementar este excelente artigo que foi postado, gostaria de deixar um pequeno trecho de um livro que consiste em um debate entre o então cardeal Ratzinger e um filósofo ateu, Paolo Flores D'Arcais. Acho que pode elucidar um pouco a origem da 'confusão' conceitual de Laicismo e que permeia várias discussões na sociedade.
A citação é do cardeal Ratzinger, hoje Bento XVI:
Portanto, creio que esta tentativa de transformar a fé em razão (suprimindo-a como fé) tenha sido a origem desta hostilidade que temos visto às verdades do Cristianismo, que protegem e sustentam a sociedade, protegendo-a dos perigos da autossuficência, levando os governantes a tentarem excluir a religião na suposta defesa da Laicidade, alegando que são ensinamentos absolutos e autoritários que não condizem com uma nação democrática. O que, na verdade, como foi dito no artigo, acaba se tornando um atentado contra a própria laicidade.
Por favor, se minha interpretação estiver equivocada, peço que me corrija.
Espero ter acrescentado.
Abraços a todos e que Deus nos abençoe sempre!
A citação é do cardeal Ratzinger, hoje Bento XVI:
Vimos que a união original, nunca indiscutível, de racionalismo e fé à qual Tomás de Aquino deu uma forma sistemática se rompeu não tanto pela evolução da fé quanto pela evolução do racionalismo. Poderíamos mencionar como etapas dessa evolução Descartes, Espinoza, Kant. A tentativa de uma nova síntese integradora por parte de Hegel não devolveu à fé seu lugar filosófico, mas tentou transformá-la em razão e suprimi-la como fé.
Portanto, creio que esta tentativa de transformar a fé em razão (suprimindo-a como fé) tenha sido a origem desta hostilidade que temos visto às verdades do Cristianismo, que protegem e sustentam a sociedade, protegendo-a dos perigos da autossuficência, levando os governantes a tentarem excluir a religião na suposta defesa da Laicidade, alegando que são ensinamentos absolutos e autoritários que não condizem com uma nação democrática. O que, na verdade, como foi dito no artigo, acaba se tornando um atentado contra a própria laicidade.
Por favor, se minha interpretação estiver equivocada, peço que me corrija.
Espero ter acrescentado.
Abraços a todos e que Deus nos abençoe sempre!
Daiane Fonseca Costa- Mensagens : 8
Data de inscrição : 23/12/2010
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Quem tem boca vai a Roma! :: Cristianismo hoje: discussões fraternas com outros grupos cristãos. :: Papo Cabeça.
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