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Atemporalidade de Deus

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RenatoPaulo
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Fábio Pauper
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Mensagem por Fábio Pauper Sex Jan 20, 2012 11:50 am

Pessoal, a paz.

A doutrina cristã ensina que Deus reside fora do tempo e do espaço. Estas duas dimensões são criaturas Suas.

A minha pergunta é: isto exclui toda sucessão em Deus?

A princípio, parece que sim, uma vez que a sucessão implica mudança e Deus é imutável. Logo, se Deus não muda, tampouco há sucessão.
Porém, embora a idéia da criação em Deus seja eterna e se identifique com a própria substância divina, é fato que houve um momento da criação.

Pois bem. Pode-se falar de um "antes" da criação do tempo? Ou de um "antes" de Deus executar aquilo de que já tinha a idéia?
Sei que Sto Agostinho diz que não faz sentido fazer este tipo de questão.

Mas..

Num dos vídeos do Pe. Paulo Ricardo, sobre os anjos, ele diz que houve uma certa sucessão nos anjos, pois, antes de os demônios caírem, eles tiveram uma oportunidade de escolha. Portanto, há um "antes" mesmo fora do domínio do tempo. E se os demônios já não foram criados enquanto tais, é óbvio que somente num "depois" é que haveriam de cair. Mas eu entendo que aqui estamos falando dos anjos. Contudo, continuemos.

Dizer que Deus é atemporal significa que toda ação d'Ele é simultânea? Isto não seria meio absurdo?
Não se deve admitir que, primeiro, Deus criou os anjos; porém, "antes" da criação dos anjos, eles não eram criados? Logo, que houve um antes? E, tendo-os criados, houve "depois" uma oportunidade de fidelidade ou infidelidade por parte dos anjos?

Enfim.. Se Deus tinha uma idéia da criação e, num certo ponto, Ele executa esta idéia, o ato da execução não diverge em alguma coisa do próprio ato da concepção? Não há algo que seja próprio e peculiar no ato de criar? Se, porém, se diz que em Deus, conceber e fazer são o mesmo, isto não implicaria uma coeternidade da criação?

Desde já, agradeço.

Que a Virgem Santíssima nos conduza.

Fábio Pauper

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Mensagem por Flávio Roberto Brainer de Dom Jan 22, 2012 11:24 am

Caro Fábio,

A paz de Jesus esteja no seu coração !

Que beleza essa questão que você nos apresenta. Ela nos conduz a uma reflexão profunda a respeito do mistério da essência de Deus, do seu Ser em si mesmo, e por outro lado, nos torna ainda mais conscientes da nossa pequenez de criaturas diante da grandiosidade do nosso Criador.

Como estamos nos colocando diante do mistério de Deus, para nos situarmos melhor, se é que assim o podemos, entendo que uma visita ao pensamento de alguns dos Santos da nossa Igreja pode nos ajudar muito a tal contemplação, mesmo que esta não nos conceda o conhecimento pleno a esse respeito.

Para Santo Agostinho, "demasiados grandes são os mistérios divinos; se tentássemos explicá-los como lhes convém, não chegaríamos a tal, nem nosso tempo, nem nossas forças" (Sermão 7.1:PL 38,62).

De semelhante maneira, nos ensina Santo Irineu que "deste Deus é indescritível sua transcendência e magnitude" (Expideixis, 8).

A relação entre Deus e o tempo, segundo o pensamento de Santo Agostinho, nos levam à uma compreensão de que "DEUS NÃO É NO TEMPO", sendo o tempo uma criatura de Deus. O tempo passou a existir ou teve sua origem com a criação, sendo criado para o homem e não para Deus. Assim, o tempo depende da existência das coisas que vem a ser e são, portanto, criadas.

É importante revisitarmos, nas Sagradas Escrituras, a maneira como Deus quis se revelar aos homens: "EU SOU AQUELE QUE SOU" (Ex 3,14).

Mas o que quer nos ensinar esta forma com a qual Deus se revelou aos homens?

Para responder a esta questão, recorramos a São Tomaz de Aquino. Para ele, "na denominação de Deus como "EU SOU", o uso do presente do indicativo significa a eternidade e outros atributos diretamente ligados a ela. "DEUS É" significa que Ele sempre foi, é e sempre será. A eternidade é atemporal, ela transcende o tempo, e é por isso que Deus é eterno. Este "SEMPRE SER" sugere a imutabilidade. Assim, se é eterno, é sempre o mesmo. Mudar significa deixar de ser. Deus não muda, é imutável, e por isso disse de si mesmo: "EU SOU", e não "EU FUI". (...). Deus é o SER e todo o "ser" d'Ele depende. Deus é o "SER" por essência. Todas as criaturas são seres apenas por participação do SER DIVINO. Deus é o SER ABSOLUTO, a fonte de todo ser criado" (Suma Teológica, I,q. 13a. 11.).

Muitas pessoas vêem no tempo a sua prisão, pois estão sempre condicionadas ao tempo e dele dependem de forma predominante durante sua existência. Isso nos leva a crer que o tempo é, para o homem, um grande desafio. Entretanto, para Deus, não existem desafios e, em relação a Ele, o tempo não passa de um simples meio que transporta a Sua vontade em relação ao homem, dando a este oportunidades para crescer, amadurecer, compreender e perceber aquilo que Deus determina para si.

Em resumo, Se o tempo existe como criatura de Deus, Deus não se limita ao tempo, pois se Deus é o Criador, não pode estar sujeito à criatura.

Penso que estes colóquios aqui apresntados, de certa forma respondem às várias indagações que você nos apresenta, mesmo considerando que a temporalidade de Deus é um mistério para o homem e, em se tratando de mistério, não há muito o que se explicar. Costumo afirmar que os mistérios são verdades que nem sempre a razão humana consegue apreender, mas que a fé os abraça independentemente do uso da razão.

Um grande abraço, e que Deus o abençoe naquela a quem proclamamos BEM-AVENTURADA !!!
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Mensagem por Fábio Pauper Dom Jan 22, 2012 12:46 pm

Caríssimo Flávio, agradeço imensamente a sua resposta. Deus o abençoe. ^^

Porém, o ponto central da minha dúvida permanece.
Compreendo que Deus seja atemporal e imutável e que a mudança implica imperfeição e certa cessação no ser.

Porém, minha questão está no que se refere à "distância" entre a concepção das coisas em Deus e a execução desta concepção, que se dá na criação.

Sto Tomás diz que as coisas criadas são incognoscíveis nas suas profundezas porque são excessivamente cognoscíveis. Compreendê-las absolutamente, isto é, nas suas profundezas, implicaria conhecer os arquétipos segundo os quais foram feitas. Ora, estes arquétipos estão em Deus e se identificam com a própria natureza divina.

Pois bem. Se tais arquétipos, identificados com Deus, são necessariamente eternos, e, não obstante, a criação não é eterna, forçoso é admitir uma certa "distância" entre o ato de conceber e o ato de criar. Se, então, conceber é "anterior" ao de criar, haveria qualquer sucessão em Deus? Mas se há, temos o problema da imperfeição.

Se, no entanto, conceber é criar, então teríamos uma coeternidade na criação, visto que Deus é eterno, e as idéias em Deus, por Este ser absolutamente simples, são uma e mesma coisa com Ele.

Não sei se fui claro, mas minha dúvida é precisamente neste ponto:
O ato da criação parece ter qualquer coisa de peculiar e único que lhe define enquanto tal e que não havia no ato da concepção.

Haveria algum modo de resolvermos este problema? Ou é mesmo algo com o qual não podemos fazer outra coisa senão aceitarmos que é mistério que nos ultrapassa?

Mais uma vez, agradeço. Que a Virgem Santíssima nos conduza. Pax.

Fábio Pauper

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Mensagem por RenatoPaulo Dom Jan 22, 2012 3:21 pm

Fábio,

Eu penso que isso é mesmo um mistério que nos ultrapassa.
Ninguem consegue explicar esse misterio porque estamos habituados a entender as coisas conforme a inteligencia humana.

Eclesiástico, 3:19
"Pois, o poder do Senhor é grande,
mas Ele é glorificado pelos humildes.
Não procures o que é demasiado difícil para ti, e não investigues coisas que superam as tuas forças.
Empenha-te naquilo que te foi ordenado, e não te ocupes de coisas misteriosas."

Eu como ja disse aqui varias vezes,embora seja Catolico acredito que Deus criou Adao e Eva no Paraiso,ou seja fora deste mundo.
Ora no Paraiso nao deve haver o "tempo"como é logico.
Acredito que num "determinado momento"Deus criou este nosso mundo junto com o tempo e com um outro homem diferente de Adao.
A descendencia desse homem foi evoluindo com o passar dos milhares de anos e quando Adao e Eva foram explusos do Paraiso,os filhos desses se casaram com filhas provenientes da geracao desse outro homem.
Ora so assim se prova a existencia de fosseis de dinossauros,por exemplo Smile

Quanto a sua pergunta...nada posso dizer porque nao o sei.

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Mensagem por Flávio Roberto Brainer de Seg Jan 23, 2012 7:29 am

Caro Fábio,

Acredito que jamais poderemos compreender o mínimo dos mistérios divinos se não nos desapropriarmos da idéia de que o tempo está para Deus da mesma forma que está para o homem.

Não sei se o meu pensamento em relação ao seu questionamento é equivocado e se o for, estou de coração aberto para a correção e o esclarecimento que se fizer necessário, mas me parece que você busca compreender se há um tempo entre o pensar ou idealizar e o agir do Criador. Seria isso?

Revisitando o texto da criação no seu sentido literal, podemos pensar que foi um acontecimento passado, consumado, como podemos concluir também que Deus se cansou no sexto dia ao ponto de precisar descansar no sétimo. A narrativa da criação traz elementos que são contrários a ordem natural, como por exemplo, a criação do sol foi posteror à criação da luz, e se isso nos é impossível de compreender, a Deus é possível mais que compreender, realizar, como constatamos nas Sagradas Escrituras.

Revisitando o mesmo texto no sentido pleno, entendo eu (não sei se a Igreja assim o entende) que a criação não se trata de um fato consumado mas é um atributo de Deus, para quem o tempo é sempre presente. Assim, a criação acontece a cada dia (para o homem) na eternidade de Deus que, sendo a essência, não tem tempo, não tem dia, não tem hora.

Penso que a criação, no tempo do homem, acontece a cada dia que nasce uma criança, que cai uma gota de orvalho, que nasce uma flor..., mas tudo isso sem considerat o "tempo de Deus" que é sempre presente: "EU SOU AQUELE QUE SOU!"

As Sagradas Escrituras afirmam que mesmo antes da criação o Senhor se agradou de nós. Como compreender isso? No sentido literal, tal compreesão é impossível, pois como poderia Deus ter se agradado de algo que ainda não existia? Mas se adentrarmos no campo do "SER" que é Deus, o podemos aceitar pela fé, uma vez que pela razão nos é impossível.

Entendo, embora não tenha palavras para explicar, que no "SER" que é Deus, o pensar e o agir sejam algo simultâneo, algo que acontece ao mesmo tempo em um tempo que não existe para Deus que é em si mesmo o "SER" de todas as coisas que n'Ele o são, inclusive o tempo.

Da mesma forma que você questiona e o Renato confirma, penso que isso é mesmo um mistério que nos ultrapassa e, de modo muito particular, se eu continuar tentando escrever mais sobre este mistério, com certeza vou ficar muito mais maluco do que já o sou... (hehehehe).

Acho que não temos como resolver essa questão e que, pelo menos por enquanto - não sei o que acontecerá daqui prá frente - é só ficar matutando, o que também é muito bom, pois mesmo que não consigamos desvendar tão grande mistério, com certeza, aprenderemos muitas coisas que o Senhor nos ensinará.

Em questões como estas, gosto muito de ler os colóquios do Pe. Anderson que nos ensina muito. Vamos aguardar alguma coisa que com certeza deve estar vndo por aí.

Um grande abraço com a ternura de Jesus e de Nossa Senhora !!!

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Mensagem por Fábio Pauper Dom Jan 29, 2012 5:59 pm

Pessoal. há alguma passagem da Suma Teológica - ou em outro livro do mesmo autor - em que Sto Tomás de Aquino discute essa questão?

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Mensagem por Binhokraus Dom Jan 29, 2012 6:14 pm

QUESTÃO X — DA ETERNIDADE DE DEUS.

Em seguida devemos tratar da eternidade.E nesta questão discutem-se seis artigos:
1. O que é a eternidade;
2. Se Deus é eterno;
3. Se ser eterno é próprio de Deus;
4. Se a eternidade difere do tempo;
5. Se a eternidade difere do evo e do tempo;
6. Se há só um evo, como há só um tempo e uma só eternidade.

ART. I — SE É BOA A SEGUINTE DEFINIÇÃO DA ETERNIDADE: A POSSE TOTAL, SIMULTÂNEA E PERFEITA DE UMA VIDA INTERMINÁVEL.
(I Sent., dist. VIII, q. 2, a. 1; De Causis, lect. II).

O primeiro discute-se assim. — Parece que não é boa a definição de eternidade, que dá Boécio: a posse total, simultânea e perfeita de uma vida interminável.
1. — Pois, “interminável” é um conceito negativo. Ora, a negação é própria à noção de deficiência, que não convém à eternidade. Logo, na definição desta não deve entrar a palavra interminável.
2. Demais. — A eternidade implica uma espécie de duração. Ora, esta é própria, mais do ser, que da vida. Logo, a palavra vida não se devia incluir na noção de eternidade, mas, antes a de ser.
3. Demais. — Chama-se totalidade o que tem partes. Ora, isto não pode convir à eternidade, que é simples. Logo, é mal aplicada na definição a palavra total.
4. Demais. — Nem vários dias, nem vários tempos podem existir simultaneamente. Ora, na eternidade distinguem-se muitos dias e tempos, pois diz a Escritura (Mq 5, 2): Cuja geração é desde o princípio, desde os dias da eternidade; e (Rm 16, 25): segundo a revelação do mistério encoberto desde tempos eternos. Logo, a eternidade não é total e simultânea.
5. Demais. — “Todo” é idêntico a “perfeito”. Ora, se já se incluiu na definição a palavra total, é inútil acrescentar perfeita.
6. Demais. — A posse não é própria da duração. Ora, a eternidade é uma duração. Logo, não é posse.

SOLUÇÃO. — Assim como devemos partir do simples para chegar ao conhecimento do composto, assim devemos partir do tempo para chegar ao conhecimento da eternidade. Ora, o tempo não é senão o número das partes do movimento, por anterioridade e posteridade. Pois, como em qualquer movimento, a uma parte sucede outra, pela enumeração das diversas partes, anteriores e posteriores, apreendemos o tempo, que não é senão o número do que é anterior e posterior, no movimento. Mas, onde não há movimento, mas, sempre o mesmo modo de existir, não se pode descobrir anterioridade e posteridade. Por onde, assim como a essência do tempo consiste na enumeração do que é anterior e posterior no movimento, assim, a da eternidade, consiste na apreensão da uniformidade do que está absolutamente fora do movimento. — Demais. Consideram-se medidas pelo tempo as coisas que nele têm princípio e fim, como diz Aristóteles2; e isto, porque tudo o que é movido inclui um princípio e um fim. Logo, o que é absolutamente imutável, não tendo sucessão, também não pode ter princípio nem fim. — Assim, pois, por duas características se conhece a eternidade: o que nela está é interminável, isto é, não tem princípio nem fim, duas noções que implica o termo, e em segundo lugar, justamente por não ter sucessão, a eternidade existe total e simultaneamente.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Costuma-se definir o que é simples, por negação; assim, ponto é o que não tem parte; mas isto não quer dizer, que a negação seja a essência de tais seres, senão que o nosso intelecto, apreendendo primeiro o composto, só pode chegar ao conhecimento do simples, removendo a composição.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O que é verdadeiramente eterno não só é ser, como também vivente; e a vida se estende, de certo modo, até à operação, mas não ao ser. Ora, a extensão da duração parece que deve ser considerada relativamente à operação, antes que relativamente ao ser; e, por isso, o tempo é o número do movimento.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Diz a definição, que a eternidade é total, não por ter partes, mas, porque nada lhe falta.

RESPOSTA À QUARTA. — Assim como a Deus, embora incorpóreo, a Escritura aplica, metaforicamente, nomes de coisas corpóreas, assim também à eternidade, que existe total e simultaneamente, aplica a denominação própria do que é sucessivo no tempo.

RESPOSTA À QUINTA. — O tempo pode ser considerado, em si mesmo, como sucessivo, ou em um dos seus momentos, que é imperfeito. Ora, a definição diz — total e simultaneamente — para excluir o tempo; e, perfeita, para excluir o momento temporal.

RESPOSTA À SEXTA. — O que é possuído o é firme e tranqüilamente; e, por isso, para designar a imutabilidade e a indeficiência da eternidade a definição empregou a palavra posse.

ART. II — SE DEUS É ETERNO.
2 IV Physic., lect. XX.
(I Sent., dist. XIX, q. 2, art. 1; I Cont. Gent., cap. XV; De Pot., q. 3, a. 17, ad 23; Compend Theol., cap. V, VIII).

O segundo discute-se assim. — Parece que Deus não é eterno.

1. — Pois, nada do que lhe é feito lhe pode ser atribuído. Ora, a eternidade é feita, conforme a expressão de Boécio: O momento que passa constitui o tempo; o que permanece, a eternidade3; e Agostinho : Deus é o autor da eternidade. Logo, Deus não é eterno4.
2. Demais. — O anterior e o posterior à eternidade por ela não se mede. Ora, Deus é anterior, como diz o livro De Causis; e posterior, conforme a Escritura (Ex 15, 18): O Senhor reinará eternamente e além da eternidade. Logo, ser eterno não é próprio de Deus.
3. Demais. — A eternidade é uma espécie de medida. Ora, a Deus não convém ser medido. Logo, nem ser eterno.
4. Demais. — A eternidade não tem presente, pretérito, nem futuro, porque existe total e simultaneamente, como se disse (a. 1). Ora, a Escritura aplica a Deus palavras que exprimem os tempos presente, pretérito e futuro. Logo, Deus não é eterno.
Mas, em contrário, diz Atanásio: Eterno Padre, Eterno Filho, Eterno Espírito Santo.

SOLUÇÃO. — A noção da eternidade resulta da imutabilidade, como a de tempo resulta do movimento, conforme do sobredito resulta (a. 1). Ora, sendo Deus o ser imutável por excelência, convém-lhe, excelentemente, a eternidade. Nem só é eterno, mas é a sua eternidade, ao passo que nenhuma coisa é a própria duração, porque não é o próprio ser. Deus, porém, sendo o seu ser uniformemente e a sua própria essência, há de, necessariamente, ser a sua eternidade.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Pela nossa apreensão é que se diz que o momento permanente constitui a eternidade. Pois, assim, como a nossa apreensão do tempo tem a sua causa no apreendermos o fluxo mesmo do momento, assim procede em nós a apreensão da eternidade, de apreendermos o momento permanente. E a expressão de Agostinho — Deus é o autor da eternidade — entende-se da eternidade participada. Pois, Deus comunica a sua eternidade a certos seres, do mesmo modo por que comunica a sua imutabilidade.
E daqui se deduz clara a resposta à segunda objeção. — Pois, diz-se que Deus é anterior à eternidade, enquanto participado pelas substâncias materiais; e, por isso, o mesmo livro diz, que a inteligência se alça ao nível da eternidade. E na expressão do Êxodo: o Senhor reinará eternamente e além da eternidade — eternamente é empregado no sentido de século, como se lê em outra versão. Assim, pois, diz-se que reinará além da eternidade, porque dura mais que qualquer século, i. é, além de qualquer duração dada; pois, século não é mais que o período de um ser, como diz Aristóteles6 . Ou ainda, diz-se que reina além da eternidade, porque, se alguma coisa existisse sempre, como o movimento do céu, segundo certos filósofos, ainda Deus reinaria mais, porque o seu reino existe total e simultaneamente.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A eternidade não é outra coisa senão Deus. Por onde, diz-se que Deus é eterno, não porque seja, de certo modo, medido; pois, a noção de medida emprega-se aí só para auxiliar nossa apreensão.

RESPOSTA À QUARTA. — As palavras que designam os diversos tempos atribuem-se a Deus, porque a sua eternidade os inclui a todos; não, porém, que ele encerre qualquer variação, que se desenvolva no presente, no pretérito e no futuro.

ART. III — SE SER ETERNO É PRÓPRIO SÓ DE DEUS.
(I Sent., dist. VIII, q. 2, a. 2; IV, dist. XLIX, q. 1, a. 2, qa 3; Quodl., X, q. 2; De Div. Nom., cap.X, lect. III; De Causis, lect. II).

O terceiro discute-se assim. — Parece que ser eterno não é próprio de Deus.

1. — Pois, diz a Escritura (Dn 12, 3): E os que tiverem ensinado a muitos o caminho da justiça, esses luzirão como as estrelas por todas as eternidades. Ora, não haveria várias eternidades se só Deus fosse eterno. Logo, nem só ele o é.
2. Demais. — Diz ainda a Escritura (Mt 25, 41): Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno. Logo, nem só Deus é eterno.
3. Demais. — Todo necessário é eterno. Ora, há muitas coisas necessárias, como p. ex., todas as proposições demonstrativas. Logo, nem só Deus é eterno. Mas, em contrário, diz Jerônimo a Dámaso: Só Deus não tem princípio7. Ora, tudo o que tem princípio não é eterno. Logo, só Deus é eterno.

SOLUÇÃO. — A eternidade, verdadeira e propriamente, só a Deus convém; pois resulta da imutabilidade, como já vimos (a. 1), e só Deus é absolutamente imutável, segundo estabelecemos (q. 9 a. 2). E, na medida em que os seres dele recebem a imutabilidade, nessa mesma lhe participam da eternidade. Ora, há certos seres que recebem de Deus a imutabilidade, de modo tal que nunca mais deixam de existir; e, neste sentido, a Escritura (Ecl 1, 4) diz que a terra permanece sempre firme. Há outros seres que, na Escritura, também se denominam eternos, por durarem diuturnamente, embora sejam corruptíveis; assim os montes chamam-se eternos (Sl 45, 5) e fala-se dos frutos eternos (Dt 33, 15). Mas, há ainda outros seres, que mais amplamente participam da eternidade, por terem o ser incorruptível ou mesmo, além disso, imutável a operação, como os anjos e os bem-aventurados, que gozam do Verbo; pois, quanto à visão do Verbo, não são mutáveis as cogitações dos santos, conforme diz Agostinho8. Por isso se diz que os que vêem a Deus possuem a vida eterna, segundo a Escritura (Jo 17, 3): A vida eterna porém consiste em que eles te conheçam por um só verdadeiro Deus, etc.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Consideram-se muitas as eternidades, por serem muitos os que dela participam, contemplando a Deus.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O fogo do inferno chama-se eterno, só por ser interminável. Há, porém, mudança nas penas dos condenados, como se vê na Escritura (Jó 24, 19): Ele passa das águas da neve para um excessivo calor. Por onde, no inferno não há verdadeira eternidade, mas antes, tempo, conforme a mesma Escritura (Sl 80, 16): E durará o tempo deles por todos os séculos.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Necessário significa um certo modo de ser da verdade, pois esta, segundo o Filósofo9, está no intelecto. O verdadeiro e o necessário são, assim, eternos por existirem num intelecto eterno, que é só o divino. Donde não se segue, que alguma coisa, fora de Deus, seja eterna.

ART. IV. — SE A ETERNIDADE DIFERE DO TEMPO.
(Infra, a. 5; I Sent., dist. VIII, q. 2, a. 2; dist. XIX, q. 2, a. 1; De Pot., q. 3, a. 14, ad 10, 18; De Div. Nom., cap. X, lect. III)

O quarto discute-se assim. — Parece que a eternidade não difere do tempo.

1. — Pois, é impossível existirem duas medidas simultâneas de duração, se uma for parte da outra; assim, não podem existir simultaneamente dois dias ou duas horas, ao passo que a hora e o dia são simultâneos porque aquela faz parte deste. Ora, a eternidade e o tempo existem simultaneamente e ambos implicam uma certa medida da duração. Logo, a eternidade, não sendo parte do tempo, porque o excede e o inclui, resulta que este é parte daquela e dela não difere.
2. Demais. — Segundo o Filósofo10, o momento temporal permanece idêntico a si mesmo na totalidade do tempo. Ora, isto mesmo é o que constitui a essência da eternidade, a saber, permanecer indivisivelmente idêntica a si mesma em todo decurso do tempo. Logo, a eternidade é um momento temporal. Ora, este não difere essencialmente do tempo. Logo, deste não difere substancialmente a eternidade.
3. Demais. — Assim como a medida do primeiro movimento é a medida de todos os outros, segundo Aristóteles11, assim também a medida do primeiro ente há-de ser a de todos os demais. Ora, a eternidade mede o ser primeiro, que é o divino. Logo, mede todos os demais seres. E como o ser das coisas corruptíveis é medido pelo tempo, este ou é a eternidade ou parte dela.
Mas, em contrário, a eternidade existe toda simultaneamente. Ora, no tempo há anterioridade e posterioridade. Logo, não se identificam.

SOLUÇÃO. — É claro que o tempo não se identifica com a eternidade. A razão da diversidade deles, porém, alguns a descobriram em a eternidade não ter princípio nem fim e o tempo tê-los. Mas, esta diferença é acidental e não essencial, porque, dado que o tempo sempre existiu e sempre existirá, permanece ainda, admitindo-se a opinião dos que consideram sempiterno o movimento do céu, uma diferença entre a eternidade e o tempo, como diz Boécio12. Essa consiste em ser a eternidade a medida do permanente e o tempo, a do movimento; pois, a primeira existe toda simultaneamente e o tempo, não. Se, porém, considerarmos a diferença referida, relativamente ao medido, e não às medidas, então a doutrina em questão tem certo fundamento. Pois, só é medido pelo tempo o que tem princípio e fim temporais, como diz Aristóteles13. Por onde, se o movimento do céu durasse sempre, o tempo não o mediria na totalidade da sua duração, porque o infinito não é mensurável; medir-lhe-ia, porém, os círculos, que têm princípio e fim temporais. Podemos ainda descobrir outro fundamento na opinião que discutimos, relativamente às medidas mesmas, se considerarmos o fim e o princípio, potencialmente. Pois, mesmo dado que o tempo dure sempre, ainda assim seria possível descobrir nele princípio e fim, considerando-lhe as partes, no sentido em que falamos do princípio e do fim do dia ou do ano. Ora, isto não pode convir à eternidade, embora tais diferenças resultem da diferença primária e essencial, a saber, que a eternidade existe toda simultaneamente, e o tempo, não.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A objeção procederia se o tempo e a eternidade fossem medidas do mesmo gênero; o que, evidentemente é falso, dadas as naturezas daquele e desta.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O momento temporal constitui um mesmo sujeito, em todo o decurso do tempo, mas não na concepção racional. Pois, assim como o tempo corresponde ao movimento, assim o momento temporal, ao móvel. Ora, este é um mesmo sujeito em todo decurso do tempo, mas muda na concepção racional, segundo está aqui ou acolá. E essa alternação constitui o movimento, do mesmo modo que o fluxo do momento, enquanto alternado racionalmente, constitui o tempo. A eternidade, ao contrário, permanece a mesma quanto ao sujeito e quanto à nossa concepção. Logo, não se identifica com o momento temporal.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Assim como a eternidade é a medida do ser em si mesmo, assim o tempo é a medida própria do movimento. Por onde, na medida em que um ser se afasta da existência permanente e sujeita-se à mudança, nessa mesma se afasta da eternidade e se sujeita ao tempo. Logo, o ser das coisas corruptíveis, sendo mutável, não é medido pela eternidade, mas, pelo tempo. Pois, este mede não só o que atualmente muda, mas também o que é suscetível de mudança e, portanto, mede, não só o movimento, mas também o repouso, próprio ao ser ao qual o movimento é natural embora não seja atualmente movido.

ART. V — SE O EVO DIFERE DO TEMPO.
(I Sent., dist. VIII, q. 2, a. 2; dist. XIX, q. 2, a. 1; II, dist. 2, q. 1, a 1; De Pot., q. 3, a. 14, ad 18; Quodl., X, q. 2).

O quinto discute-se assim. — Parece que o evo não difere do tempo.

1. — Pois, diz Agostinho, que Deus move as criaturas espirituais no tempo14. Ora, entende-se por evo a medida das substâncias espirituais. Logo, o tempo não difere do evo.
2. Demais. — É da essência do tempo ter anterioridade e posterioridade, ao passo que a eternidade, por essência, existe toda simultaneamente, como já dissemos (a. 1). Ora, o evo não é a eternidade, pois diz a Escritura (Ecle 1, 1), que a sabedoria eterna é anterior ao evo. Logo, este não existe todo simultaneamente mas tem anterioridade e, portanto, é tempo.
3. Demais. — Se no evo não há anterioridade e posterioridade, segue-se que nos seres eviternos não há diferença entre ser, ter sido, ou haver de ser. Ora, como é impossível tais seres não tenham existido, segue-se que é impossível não hajam de ser, o que é falso, porque Deus pode reduzi-los a nada.
4. Demais. — A duração dos seres eviternos sendo infinita, na sua continuidade, se o evo existe total e simultaneamente, segue-se que há seres criados atualmente infinitos, o que é impossível. Logo, o evo não difere do tempo.
Mas, em contrário, diz Boécio: Tu que fazes sair o tempo, do evo15.

SOLUÇÃO. — O evo difere do tempo e da eternidade, sendo o termo médio entre ambos.
Esta diferença, porém, uns a descobrem em que a eternidade não tem princípio nem fim; o evo tem princípio, mas não tem fim; e o tempo tem princípio e fim. — Mas esta diferença é acidental, como já dissemos, pois mesmo que os seres eviternos tivessem existido sempre e sempre houvessem de existir; e mesmo que viessem a deixar de existir um dia, o que Deus poderia fazer, mesmo assim, o evo se distinguiria da eternidade e do tempo.
Outros, porém, descobrem a diferença em que a eternidade não tem antes nem depois; o tempo tem antes e depois, implicando inovação e antiguidade; e o evo tem antes e depois, mas, sem renovação e antiguidade. — Mas, esta opinião implica contradição, que manifestamente ressalta, se a renovação e a antiguidade se referirem à medida mesma. Pois, não podendo ser simultâneos o anterior e o posterior da duração, se o evo tem antes e depois, é necessário que, desaparecendo uma parte anterior, sobrevenha, como renovamento, a que lhe sucede; e, desde logo, haveria no evo renovação, como no tempo. Se, porém, se referirem às coisas medidas, também daí resultam inconvenientes. Pois, as coisas temporais envelhecem no tempo, porque têm o ser transmutável; e é dessa transmutabilidade que resultam o antes e o depois do tempo, como se vê em Aristóteles16. Se, portanto, o sujeito de eviternidade não envelhece nem se renova temporalmente, é porque tem o ser intransmutável. Logo, a sua medida não tem antes nem depois.
Devemos, portanto, admitir que, sendo a eternidade a medida do ser permanente, na medida em que uma criatura se afasta da permanência do ser, nessa mesma se afasta da eternidade. Ora, certas se afastam de modo tal, que o ser delas está sujeito à transmutação ou nesta consiste. Outras, porém, afastam-se menos, porque o ser delas nem consiste na transmutação, nem está sujeito a esta; contudo tem a transmutação adjunta, atual ou potencialmente. E isto bem se vê nos corpos celestes cujo ser substancial é intransmutável mas tem adjunto o movimento local. O mesmo se dá com os anjos, que têm o ser intransmutável, mas variável quanto à eleição, na medida em que isso lhes pertence à natureza; e variável, ainda, pelos pensamentos, pelos afetos, e a seu modo, localmente. Por isso medem-se pelo evo, meio termo entre a eternidade e o tempo. Ora, o ser que se mede pela eternidade, nem é mutável, nem admite nenhuma espécie de mudança; assim pois, no tempo, há antes e depois; no evo, não há, mas pode vir conjuntamente com eles; a eternidade não os tem, nem com eles é compatível.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — As criaturas espirituais, quanto aos afetos e pensamentos, em que há sucessão, medem-se pelo tempo; e, por isso, diz Agostinho17, que ser movido no tempo é ser movido quanto aos afetos. Quanto ao ser natural, porém, elas são medidas pelo evo. E, por fim, quanto à visão da glória, participam da eternidade.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O evo existe todo e simultaneamente; não é porém a eternidade, porque em si comporta antes e depois.

RESPOSTA À TERCEIRA. — No ser do anjo em si mesmo considerado, não há diferença do pretérito e futuro, senão só por mutações adjuntas. Mas, quando dizemos que o anjo é, foi ou há-de ser, isso implica diferença na acepção do nosso intelecto, que compreende o ser angélico por comparação com as diversas partes do tempo. E quando o nosso intelecto diz, que o anjo é ou foi, supõe algo de incompatível com a suposição contrária, mesmo para o poder divino; e quando diz que será, não faz ainda tal suposição. Ora, o ser e o não-ser do anjo, dependendo do poder divino, Deus pode, absolutamente falando, fazer com que o ser dele não venha a existir; não pode, porém, fazer que não exista, existindo; ou que não seja, depois que foi.

RESPOSTA À QUARTA. — A duração do evo é infinita, porque não tem limites no tempo. Por onde, não é inconveniente existir uma criatura infinita, por não ser limitada por nenhuma outra.

ART. VI — SE HÁ SÓ UM EVO.
(II Sent., dist. II, q. 1, a. 2; Quodl., V, q. 4; Opusc. XXXVI, De Instant., cap. III).

O sexto discute-se assim. — Parece que não há um só evo.

1. — Pois, diz o livro apócrifo de Esdras (III, IV, 40): a majestade e o poder dos evos está em ti, Senhor.
2. Demais. — Gêneros diversos têm medidas diversas. Ora, certos seres eviternos — os corpos celestes — pertencem ao gênero das coisas corpóreas; outros, porém — os anjos — são substâncias espirituais. Logo, não há um só evo.
3. Demais. — Designando o evo a duração, os seres que têm o mesmo evo têm a mesma duração. Ora, nem todos os seres eviternos têm a mesma duração, porque uns começam a existir depois deoutros, bem o demonstram as almas humanas. Logo, não há um só evo.
4. Demais. — Seres que não dependem uns dos outros não têm a mesma medida de duração; por isso é que todas as coisas temporais são medidas pelo mesmo tempo, porque a causa de todos os movimentos é, de certo modo, o primeiro movimen to, medido pelo primeiro tempo. Ora, os seres eviternos não dependem uns dos outros. Logo, não há um só evo.
Mas, em contrário. — O evo é mais simples que o tempo e mais se aproxima da eternidade. Ora, o tempo é um só. Logo, com maior razão, o evo.

SOLUÇÃO. — Sobre este assunto houve duas opiniões. Uns dizem que o evo é um só e outros, que muitos. Para sabermos qual delas é a mais verdadeira, devemos considerar a causa da unidade do tempo, pois pelo conhecimento do corporal, chegamos ao do espiritual.
Assim, uns dizem que há um só tempo para todos os seres corpóreos, porque só há um número para todas as coisas numeradas; pois, o tempo é número, segundo o Filósofo18. Mas, isto não basta, porque o tempo não é um número separado da coisa numerada, mas, nesta existente; do contrário, não seria contínuo, pois a continuidade de dez braças de pano, por exemplo, não está em um número, mas no pano numerado. Ora, o número existente nos numerados não é o mesmo para todos, mas cada um tem o seu.
Por isso, outros querem ver a causa da unidade do tempo na unidade da eternidade, princípio de toda duração. De modo que todas as durações se reduzem a uma, se lhes considerarmos o princípio; são muitas, pelo contrário, se considerarmos a diversidade dos seres que recebem a duração do influxo do primeiro princípio. — Outros, por fim, descobrem a causa da unidade do tempo na matéria prima, sujeito primeiro do movimento, cuja medida é o tempo. Ora, nenhuma destas duas opiniões pode ser considerada suficiente, porque seres que se unificam em virtude de um princípio, ou pelo sujeito, sobretudo remoto, não têm unidade, pura e simplesmente, mas sobre certo ponto de vista.
Por onde, a verdadeira razão da unidade do tempo é a unidade do primeiro movimento, pelo qual, sendo simplicíssimo, todos os demais são medidos, como diz Aristóteles19. Assim, pois, o tempo está para esse movimento, não só como a medida, para o medido, mas também como o acidente, para o sujeito e, portanto, dele recebe a unidade; ao passo que está para os outros movimentos somente como medida, para o que é medido; e nem se multiplica com a multidão deles, porque uma medida distinta pode medir muitas coisas.
Isto posto, devemos saber que houve dupla opinião a respeito das substâncias espirituais. Assim, uns diziam que todas ou, pelo menos, muitas, no sentir de outros, procederam de Deus em uma quase igualdade, como ensina Orígenes20. Outros, porém, diziam que todas as substâncias procederam de Deus num certo grau e numa certa ordem; este foi o sentir de Dionísio21 que diz haver, entre as substâncias espirituais e ainda, numa mesma ordem de anjos, primeiras, médias e últimas. Ora, pela primeira opinião, é necessário admitirem-se vários evos correlativos aos vários seres eviternos primeiros e iguais. Pela segunda, é necessário admitir-se um só evo, porque, medindo-se cada ser pelo que é mais simples no seu gênero, como diz Aristóteles22, o ser de todas as criaturas coeternas há-de forçosamente ser medido pelo que o é primariamente, tanto mais simples quanto mais elevado for. Ora, sendo esta opinião mais verdadeira, como a seguir se demonstrará, concedemos, no caso presente, que há um só evo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Evo é às vezes tomado por século, período de duração de um ser; e, então consideram-se os evos muitos, como os séculos.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora os corpos celestes e os espirituais difiram pelo gênero da natureza, têm, contudo, de comum, o serem intransmutáveis, e, por isso, medem-se pelo evo.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Embora os seres temporais não comecem todos simultaneamente, contudo, todos estão no mesmo tempo, por causa do movimento primeiro medido pelo tempo. E, assim, todos os seres eviternos têm um mesmo evo, em virtude do primeiro dentre eles, embora nem todos comecem simultaneamente.

RESPOSTA À QUARTA. — Para que várias coisas tenham a mesma medida, não é necessário que esta seja a causa de todas aquelas, mas, que seja mais simples que elas.
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Mensagem por Catholic Sáb Fev 11, 2012 6:36 pm

Acredito que posso acrescentar algumas coisas às palavras de Santo Tomás, publicada pelo Cleber, para você melhor entender.

Deus é motor imóvel. As ações DEle não implicam em mudança para Ele, pois Ele não tem potência. As ações de Deus apenas afetam os objetos, DEle somente é emanado ato. O momento de criação está fora Dele, pois Ele é atemporal. Tempo é, justamente, mudança, sucessão, o que não há NEle, logo só na sua criação. É o mesmo que dizer que se nós mudamos, Deus teria que mudar, passando o tempo a Ele. Eis por que, se o mundo não tivesse instante inicial, poder-se-ia falar de sua perpetuidade, mas não de sua eternidade.

Santo Agostinho explica isto de outra forma:
"Vi que cada coisa se harmoniza com o lugar em que se encontra, e também com sua época, e tu, único eterno, não começaste a agir depois de incalculáveis espaços de tempo, pois todos estes espaços de tempo, passados ou futuros, não teriam se passado, nem poderiam sobrevir, se tu não agisses, permanecendo imutável." (Confissões, Livro VII, 15,21)
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Mensagem por Romão Casals Qui Out 25, 2012 9:41 am

A perfeição de Deus implementa todas as possibilidades inteligíveis.

A essência do contexto em que se enquadra esta observação nasce de uma perspectiva de criação que diverge na totalidade com uma dinâmica de campos paralelos, o desígnio “eu”, restringe-se à personalidade de um único ser. O universo tem por consciência uma filosofia na qual se encontra a razão de uma existência digna.

A concepção de Deus tendo como principal característica o aspecto potencializado, abstracto, sem qualquer tipo de concretização, não fundamenta a própria substancia do evento celeste, a interacção de movimento em planos distintos está separado pela ilusão do espaço-tempo mas apenas em um único momento. É uma variante do reflexo de eternidade com a constante presença da criação.

Ter oportunidade de viver sem espaço de tempo contempla descritivamente o ser omnipotente, sendo que este só poderá ser interiorizado como a sombra de uma ténue existência, todos os momentos coexistem na ilusão do passado e os múltiplos universos definem a contradição da singularidade, existências paralelas é a sequência de uma previsão inequívoca com pouca amplitude.

Com efeito, esta incapacidade mecânica traduz-se na pergunta:

Qual a matéria ou energia que constitui o nada?

Por não se saber como reage a antipartícula do fotão, nem a própria pergunta é adequada.

Este é o raciocínio que me ocorre quando admiro a essência divina de Jesus. Trata-se de um pressuposto filosófico na tentativa de explicar três constatáveis manifestações de omnisciência em diferentes circunstâncias narradas na Bíblia.

Jesus Cristo é Deus em toda a sua plenitude, assume forma humana distinguindo-se aos nossos olhos no plano tridimensional de espaço-tempo. A transposição não altera o quadrimomento onde a velocidade da luz é o limite inferior, deste modo, o “Filho de Deus” enquanto carne, não pode situar-se em simultâneo com a eternidade.

Para compreender esta afirmação de incontornável realidade, proponho uma possível explicação fundamentada nos princípios elementares da física quântica mencionando as próprias palavras que Jesus proferiu há dois mil anos.

Pai, é chegada a hora, glorifica a teu Filho para que também o teu filho te glorifique a ti. (São João 17)

Pode parecer controverso, mas quando Jesus se dirige ao Pai mantém na verdade um diálogo com a primeira pessoa do singular. Não é uma inconsistência nem um desígnio que transcenda o entendimento intuitivo, esta acção geometriza o adverso da posterioridade em um movimento concluído na contracção de tempo e espaço.

Deus pode localizar-se simultaneamente em vectores distintos de tempo unidimensional, na verdade ele não muda a sua posição, ele já lá esta, a sua presença permanece estática, complementando uma essência única de um espírito indivisível.

Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. (São João 17:4)

Por outras palavras subentende-se que o momento que antecede a concretização espiritual completa, apenas existe porque efectivamente sempre existiu. Deste modo posso afirmar que todo o universo é obra apenas de um único Deus, todo o resto é a exequível profanação do absoluto.

Agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse. (São João 17:5)

Esta afirmação em que Jesus contempla a substância activa da constante presença de uma realidade intemporal, representa a evidência da Divindade no seu esplendor. Posto isto conclui-se que ele coexiste diametricamente à matéria comum.

O mesmo acontece com o Espírito Santo, sendo que este é a individualização de uma entidade imutável (com perfeição da vitalidade) situada na atemporalidade, depreende-se fora da radiação ressonante tendo como propósito interagir com qualquer frequência do espectro electromagnético. Ou seja, o Espírito Santo é Deus na verdadeira ascensão da palavra.

Para que não restem dúvidas ao anteriormente exposto, devo esclarecer o seguinte:

Jesus é a materialização de Deus no seu eterno esplendor, pois nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade. A natureza divina completa-se em Cristo, ele é o criador, a origem, sua existência não teve início. Tudo foi criado por ele e para ele. Galáxias, quasares, magnetares e estrelas, encontram sua razão de ser em Jesus.

É virtualmente impossível refutar este princípio, pois esta é a imagem do Deus invisível, o Primogénito de toda a criação. A incomensurável glória na subtileza do ser, sustenta o universo com o poder da sua palavra, ele é o Espírito Santo, a existência sem limites presa em um instante antes que a revelação nos liberte a alma, este é o momento único que trás a imortalidade.

Jesus é o culminar da singularidade, por ele tudo começou a existir, e sem ele nada do que foi feito veio à existência, ele está antes de todas as coisas, nele tudo subsiste. Apenas o Senhor detém tal prerrogativa, é um obstáculo intransponível, antes que Abraão existisse, eu sou. Se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados. (São João 8:24)

Jesus é o próprio Deus que no Verbo se fez carne e habitou entre nós. Pai, Filho e Espirito Santo são as três qualidades nas quais a divindade está atribuída, esquecer uma personalidade é o bastante para que a unidade em Deus seja destruída.

Peço que não me interpretem de forma errada, mas em virtude de uma incessante vontade em se reverter raciocínios para interpretação das mais absurdas disparidades, emerge um conflito de fé como paradoxo de uma controvérsia que em nada se ajusta com a realidade.
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Atemporalidade de Deus Empty «Louvado seja o nome de Deus, bendito seja de eternidade em eternidade,...

Mensagem por MSPP Qui Nov 08, 2012 3:48 pm

Relativamente ao tempo podemos concentrar-nos em diversos conceitos de tempo.
1) Tempo: o espaço entre duas ocorrências.
2) Eternidade, que é o intervalo de tempo que vai desde que foi criado por YHWH (exemplo no principio era o LOGOS) e o infinito temporal, que nunca mais acaba.
3) Também há quem chame de eternidade (por analogia) o tempo, antes do tempo ser criado, o que é uma incoerência. Assim, como o tempo foi criado por YHWH, não há um antes, há apenas um início, que é o principio do tempo, o momento zero. Mas para que o tempo fosse criado é necessário que existisse um Criador que existe na intemporalidade, isto é não está agarrado ao tempo. Na bíblia há a expressão de «eternidade» em «eternidade». Não é uma linguagem precisa, mas é fácil de imaginar e compreender o significado.

19*O mistério foi, então, revelado a Daniel numa visão nocturna. Daniel bendisse o Deus dos céus 20e exprimiu-se deste modo:
«Louvado seja o nome de Deus,
bendito seja de eternidade em eternidade,
porque a Ele pertencem a sabedoria e o poder.
(Daniel 2:20)

4) Também podemos usar a palavra «eternidade» no sentido relativo. Por exemplo: «estive "uma eternidade" numa fila à espera de vez»!
A própria biblia diz que Sodoma e Gomorra foram sujeitas ao «fogo eterno».
Também Sodoma, Gomorra e as cidades circunvizinhas, que se prostituíram da mesma maneira e se entregaram a vícios contra a natureza, são apontadas como exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno
(Judas 7)
Isto quer dizer que Sodoma e Gomorra foram destruídas pelo fogo e para sempre! Mas agora, depois da destruição já lá não há fogo!

5) Também, e mais recentemente há a noção de tempo definida por Einstein na sua tão falada «teoria da relatividade» e outros estudos ainda mais recentes.
Segundo estas teorias a noção de tempo é diferente da que estamos habituados e anda relacionado com o espaço. O tempo passa mesmo a ser considerado uma 4ª dimensão a acrescentar às 3 dimensões espaciais.

Assim a linguagem vai evoluindo e dando vários significados ao mesmo vocábulo, consoante a necessidade e o contexto, o que nos leva a conclusões diferentes e complicadas de formas a não nos compreendermos, quando uns usam o mesmo vocábulo que nós, mas com sentido diferente.
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