Pronomes de Tratamento

NOTA DA MODERAÇÃO: Teor inicial do tópico: Em certa passagem do Evangelho de S. Mateus... Eis que um leproso aproximou-se e prostrou-se diante dele, dizendo: Senhor, se queres, podes curar-me.Não vemos nos registros bíblicos, a forma de tratamento "vós" para Jesus como hoje temos em nossas liturgias.

Qual a diferença de chamar Deus, Jesus ou o Espírito Santo de "Tu" ou mesmo "Você" (referindo-se a uma pessoa) e chamá-los individualmente de "Vós"?
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Isso é apenas uma nuance do português. De certo que o pronome "vós" é originalmente usado como 2a pessoa do plural. Porém, a forma básica também é usada como pronome de tratamento, principalmente quando nos dirigimos a autoridades (e.g. Vossa Excelência, Vossa Senhoria, Vossa Majestade). Portanto, o uso do pronome "Vós" quando nos referimos a Deus exprime a reverência que Lhe é devida.

Nobre colega,

Volto a dizer que o uso do "Vós" nada mais é que uma nuance da língua portuguesa. Embora a Trindade seja uma realidade ensinada pela Igreja, neste caso não há nenhuma doutrina envolvida. É apenas uma regra de uso do pronome, conforme explica uma estudiosa da área:

"O poder que exerce um personagem sobre o outro determina o uso do pronome. Neste contexto, TU e VÓS têm maior extensão semântica, TU aparece como regra geral entre personagens de nível social superior falando com personagem de nível social inferior (relação de superioridade), neste caso, a condição social do ouvinte determina o emprego do pronome, o uso de TU na fala do superior marca o rebaixamento social do ouvinte (inferior). VÓS aparece entre personagem de nível social inferior falando com superior (relação de inferioridade), aqui o emprego do pronome na fala do inferior marca o distanciamento social entre o falante (inferior) e o ouvinte (superior). "

E a professora é ainda mais específica:

"O emprego de VÓS aparece em outra situação, quando há registro religioso. Quando os personagens se referem a Deus ou a entes religiosos sempre usam esse tratamento em sinal de respeito. Na verdade, há aqui uma relação de inferioridade, onde o ente religioso é o elemento superior. "

Referência: Domingos, T. R. E., "PARA UMA HISTÓRIA DO PORTUGUÊS DO BRASIL: USO DOS PRONOMES DE TRATAMENTO NOS PERSONAGENS DO TEATRO DE CORDEL PORTUGUÊS DO SÉCULO XVI"; Disponível em: http://elies.rediris.es/elies13/domingos.htm

Prezado,
A regra geral do pronome "vós" não é a relação entre inferior e superior, e sim sua aplicação como 2a pessoa do plural. Esta relação inferior / superior é uma exceção à regra. Além do mais, a professora cita regras utilizadas no século XVI, com a evolução da língua as regras mudam, tanto que o pronome vós tem caído no desuso, isso poderia até explicar a gradativa substituição do "Vós" pelo "Tu" em algumas citações bíblicas, como fez o padre na referida música.
Para dirimir a dúvida, consultemos a Vulgata Latina:

"sic ergo vos orabitis Pater noster qui in cælis es sanctificetur nomen tuum" (Mt, 6:9)

Não domino o latim, mas acho que as forma plural do referido pronome seria tuam, e não tuum.

Como a doutrina bíblica é a mesma, tanto na versão latina quanto na portuguesa, creio que o emprego do "vós" deve-se apenas à questão da língua portuguesa. Bom, mas como não sou lingüista nem teólogo, não posso afirmar nada, essa é apenas minha opinião, a qual tem grandes chances de estar errada...rs

Fique com Deus,
Fabrício

Amados Irmãos,

Este tópico está ficando engraçado pelas lições da nossa confusa língua portuguesa.

Não tenho muita certeza, pois estudei o latim noos dois ultimos anos do curso ginasial nos anos de 1973 e 1974, quando deixei o seminário, mas acho que a citação da vulgata transcrita pelo Fabrício [ "sic ergo vos orabitis Pater noster qui in cælis es sanctificetur nomen tuum" (Mt, 6:9) ] está correta com o pronome "TUUM" porque a concordância é feita em relação ao substantivo "NOMEN".

De qualquer forma, temos o Pe. Léo que é professor de latim e participa também do nosso fórum. Talvez ele nos possa explicar essa questão com mais propriedade, não é verdade ?

Em relação aos pronomes de tratamento, tenho essa questão como uma norma de elegância da nossa língua que, como afirmei anteriormente, é muito confusa.

Agente aprendeu na escola, por exemplo, que em um discurso, deve usar o pronome na segunda pessoa do plural, até mesmo porque esta fórmula exprime, para além da elegância, um certo respeito. Nos nossos dias, convivemos com uma flexibilidade bem maior em relação aos pronomes de tratamento, o que não implica na redução do respeito que se tem por aqueles a quem todo o discurso se direciona.

Há um tempo atrás, assistindo pela TV a uma sessão do senado, percebí no discurso da senadora Heloiza Helena, se dirigindo ao senador Antônio Carlos Magalhães, algo mais ou menos assim:

"Procurei no dicionário uma palavra que caracterizasse a pessoa de V. Exia., e depois de muito procurar, encontrei uma: A V. Exia. é um canalha!"

Neste exemplo, apesar de se servir do pronome V. Exia. que é um pronome de tratamento respeitoso, faltou o respeito.

Acredito que independentemente do pronome de tratamento que possamos utilizar, o mais importante é manter o respeito, principalmente se nos dirigimos a Deus.

Um grande abraço a todos !!!