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A Igreja e a Lei Seca

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Mensagem por Julio Seg Mar 23, 2009 4:10 pm

Olá pessoal!

Pra quem não me conheçe, além de ser da equipe do Oficina de Valores, sou agente da Pastoral da Sobriedade, que é uma ação concreta da igreja na luta contra as drogas. Decidi incluir no fórum um ponto que considero importante, devido ao fato de estarmos vivendo a campanha da fraternidade que tem como tema: FRATERNIDADE E SEGURANÇA PÚBLICA, cujo o lema é: “A paz é fruto da justiça” (Is 32, 17).

Acredito que todos sabem que no ano passado entrou em vigor a Lei Seca - Agora o limite legal é equivalente a um chope. Além de multa de R$ 955, a lei prevê a perda do direito de dirigir e a retenção do veículo. A partir de 6 decigramas por litro (dois chopes), a punição será acrescida de prisão. A pena de seis meses a três anos e é afiançável (de R$ 300 a R$ 1.200, em média, mas depende do entendimento do delegado).

Pelo que eu aprendi, a Igreja considera uma lei civil boa se ela for uma lei justa. Exemplo: Se o aborto for declarado legal no brasil, jamais a igreja vai apoiar tal lei, pois existe nela um atentado contra a vida humana, ou seja, é uma lei injusta.

A pergunta que eu coloco é a seguinte: Será que a Igreja considera justa a lei seca?

Se sim, porque algumas paróquias insistem em vender bebidas alcoólicas nas festas dos seus padroeiros, em jantares dançantes e outros eventos semelhantes, sabendo que boa parte das pessoas que frequentam tais festas possuem carros podem ser presos se após ingerirem bebidas alcoólicas forem parados numa blitz da polícia e o bafômetro acusar que passaram do limite??

Até quando a lei seca é uma lei justa?
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Mensagem por Pe. Anderson Ter Mar 24, 2009 11:57 am

Caro Júlio,

Muito interessante sua questao. Só queria, antes de te responder, fazer uma pequena correçao. A lei brasileira foi atualizada e agora o limite nao é mais 0,6% de alcool, mas sim 0,0%! Ou seja, a tolerância é zero. Tenho certeza disso pois acabei de tirar minha carteira de motorista e assim está no Código de Trânsito Brasileiro.

Isso quer dizer na prática que: se um padre celebra uma Missa, tem que dirigir e é obrigado a passar pelo teste no bafômetro, automaticamente ele será punido! Pode ver assim as consequências que essa lei traria se realmente fosse aplicada.

Depois continuo a questao, mas por isso nós já podemos fazer uma avaliaçao dessa lei. Parece uma lei justa?

Um grande abraço.
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A Igreja e a Lei Seca Empty tolerãncia zero

Mensagem por Julio Qua Mar 25, 2009 5:35 pm

Realmente eu não sabia dessa alteração, mas tem uma coisa, se a tolerência é zero tem que haver um motivo sério.
Um dia desses eu comunguei de forma diferente, o padre celebrava missa para 4 pessoas e tivemos que tomar a espécie de vinho, cada um tomava um gole, não sei se você sabe, mas eu já tive problemas com o alcool, inclusive já fazem 7 anos e meio que não bebo nada! Confesso que o pouco que tomei me deixou um pouco tonto. Conheço pesoas que passaram por situação do alcolismo, mas bem pior que eu, essas pessoas dizem não poder comungar em duas espécies. Conheço também o caso de um sacerdote que também tem essa dificuldade, pelo que eu fiquei sabendo ele só pode comungar com vinho sem alcóol. Se realmente a tolerância zero está sendo aplicada no brasil, será que a Igreja não pode se adaptar a essa lei e autorizar o uso do vinho sem alcool?
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Mensagem por alessandro Qua Mar 25, 2009 10:02 pm

ninguem tem que receber a especie de vinho. qdo for assim, avise que vc teve problemas com dependencia quimica.
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Mensagem por Julio Qui Mar 26, 2009 4:20 pm

Depois eu expliquei para o padre e não vai acontecer mais!
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Mensagem por Pe. Anderson Sex Mar 27, 2009 11:42 am

Caro Júlio,

Voce apresenta aqui questões muito interessantes! Vamos tentar dar algumas luzes sobre ese tema tão importante na vida de tantos cristãos.

Primeiro ponto: sobre a moralidade das bebidas alcoólicas: sobre esse tema devemos partir do Evangelho. Devemos nos lembrar que Cristo fez seu primeiro milagre numa festa de casamento, transformando água em vinho (bebida alcoólica) a pedido de sua mãe! Quer dizer, em princípio, não há problemas para os cristãos no consumo de bebida alcoólica e creio que não deve haver uma proibição desse tipo de bebidas para as festas cristãs. A primeira festa cristã, esse casamento, teve presente Jesus, sua Igreja iniciante (os Apóstolos) e a Mãe de Cristo. Quer dizer, esteve presente toda a santidade de Deus ali naquele momento e o primeiro milagre do Senhor foi transformar água em vinho para alegrar uma festa.

Depois podemos nos lembrar que o Senhor escolheu o vinho para se fazer presente realmente, na Eucaristia. Poderia ter escolhido muitas coisas, mas preferiu o vinho. Houve uma Seita no século II (os Encratistas) que afirmavam que a Missa devia ser celebrada com água (pois nas Bodas de Caná o Senhor transformou a água em vinho). Essa seita foi condenada pela Igreja, que sempre defende que o pão e o vinho natural são a matéria própria do Sacramento da Eucaristia.

Na Idade Média houve um Bispo que foi evangelizar o norte da Europa e então ele fez uma consulta a Santa Sé: só podemos batizar com água ou podemos também batizar com cerveja? Essa pergunta parece absurda, mas ela tem todo sentido. No norte da Europa, boa parte do ano as temperaturas estão abaixo de zero, portanto toda água está congelada, e não era fácil conseguir água, especialmente sendo um missionário, numa época de poucos cristãos. Ele fez essa pergunta porque a cerveja não congela a zero grau e era uma das fontes da alimentação daqueles povos, era o que realmente matava a sede dos missionários católicos! A resposta da Santa Sede foi negativa: não se pode usar cerveja para batizar por respeito à matéria que o Senhor usou nos Sacramentos.

Portanto não há problema, em princípio no consumo de bebidas alcoólicas, mas o problema está no seu exagero. Há pecado para o consumo de bebidas desde quando a pessoa seja enferma, esteja proibida de usar essas substâncias e mesmo assim as usa.

Não seria pois um pecado vender cerveja ou vinho em festas católicas. O pecado seria se permitir o exagero, visar o lucro mais do que o bem do próximo. Se pode, em condições normais, tomar bebida alcoólica tendo caridade com o próximo. Mas claro, sempre precisamos ter bom senso: se estamos numa paróquia onde há grande número de alcoólatras, não seria lícito vender bebidas alcoólicas nas festas católicas. Mas, em princípio, não há pecado no consumo moderado de bebidas alcoólicas.

Segunda questão: sobre a lei seca no Brasil: não conheço nenhum pronunciamento oficial da Igreja brasileira sobre a justiça da lei seca. Creio que essa lei não é justa porque ela é desproporcional. Não sou médico, mas creio que um pequeno consumo de bebida alcoólica não impede que uma pessoa conduza um veículo.

Sobre a Igreja se adaptar à lei brasileira creio que: a Igreja defende sempre a matéria dos sacramentos. É claro que no caso de sacerdotes que ficam doentes depois da ordenação e não podem tomar vinho natural, a Igreja permite o consumo do vinho sem álcool. Mas isso é uma exceção, que não creio que deve se tornar norma universal, devido a uma lei civil injusta. O melhor seria o diálogo entre a Igreja e o Estado. Ou teríamos outra opção: fazer que todos os sacerdotes brasileiros tivessem motorista particular. Seria possível isso? Sabemos que a grande maioria do clero brasileiro vive com dificuldades para se manter dignamente (assim como a maioria da população). Ou seja, não podemos ceder em algo tão sagrado (Deus escolheu o vinho natural para ser a matéria do Sacramento) e não deveríamos aceitar tão facilmente uma lei injusta. Creio que o diálogo deve ser o caminho.

Creio que respondi a tudo; se você quiser podemos continuar o debate. Realmente é muito interessante esse tema. Um grande abraço.
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Mensagem por Julio Seg Mar 30, 2009 1:59 pm

Muito bem colocado, adorei a resposta!
Concordo plenamente com tudo que você falou, mas eu só acho que deveriamos fazer um trabalho de prevenção nas paróquias que vendem a bebidas alcoolicas, pois muita gente não sabe a medicina já detectou que determinadas pessoas, parece que cerca de 13% da população, tem tendência a serem alcoólatras, isso devido a um gen encontrado no organismo dessas pessoas.

Essas informações foram me passadas por um Neurologista da nossa cidade, inclusive eu vou convidá-lo a participar deste forum para tirar algumas dúvidas relacionadas a esses temas, ele sabe muito a respeito das drogas. Li uma fonte em um site que fala um pouco deste gen, segue então o artigo e a fonte se onde eu consegui:
http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/2156


Gene do alcoolismo

17/06/2003


O U. S. National Institute of Alcool Abuse and Alcoholism (NIAAA) relatou que foi descoberta mais um loci (local) genético nos cromossomas que sugere uma suscetibilidade (vulnerabilidade) para o vício. Já existem vários loci desses tipos descritos.

Um dos estudos em que o NIAAA se baseou foi publicado na Eletroencephalogr. Clin. Neurophysiol. 1998; 108:1- 7. O estudo foi realizado com 607 pessoas provenientes de 10 famílias com predisposição ao alcoolismo.

No eletroencefalograma (EEG), havia uma baixa amplitude da onda P3 na atividade cerebral que é indicativo de uma dificuldade de distinguir um estímulo cerebral significativo de um não significativo.

Os autores constataram que existe uma forte associação genética entre essa onda P3 reduzida e os cromossomas 2 e 6, e uma associação menor com os cromossomas 3 e 13. Os autores acreditam que essas pesquisas levarão a identificar os indivíduos propensos ao alcoolismo. Outro estudo foi feito com 987 pessoas pertencentes a 105 famílias onde pelo menos 3 pessoas de parentesco de primeiro grau eram alcool-dependentes (Neuropsychiatric Genetics 1998;81:207-215). Nesse trabalho a pesquisa foi do DNA 291, que é um marcador ligado à dependência, encontrado em forte ligação com os cromossomas 1 e 7 e ligação fraca com o cromossoma 2. Os autores identificaram um loci protetor, em não provocar o vício, localizado no cromossoma 4, que impediu que filhos desses pacientes se tornassem alcoólatras. Os diretores do NIAAA acreditam que, em poucos anos, o tratamento do alcoolismo será genético.

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Mensagem por Julio Seg Mar 30, 2009 2:07 pm

Se isso realmente for verdade, a pessoa só vai saber se é alcoólatra caso ela tome o primeiro gole, temos que ter muito cuidado!

Outro caso chamou muito a minha atenção. Conheco um jovem que é usuário de bebidas alcoólicas e maconha há muito tempo, esse jovem já está muito debilitado devido as drogas e isso faz com que ele tenha dificuldade de raciocínio. Ele foi ter uma confissão com um sacerdote, e o padre disse que não teria problema algum este jovem beber somente uma cervejinha no final de semana, inclusive ele disse que bebia. Será que nós não devemos passar essas informações para os padres que desconhecem essas questão do gem do alcolismo>? Como podemos fazer isso?
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