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Congresso sobre teoria da evolução - entrevista

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Mensagem por larissa Qui Jan 29, 2009 4:14 pm

Um pouco longo, mas vale a pena! Laughing



Dom Gianfranco Ravasi: é necessário «encontro de fronteiras» entre fé e ciência

A Gregoriana organizará um Congresso sobre a teoria da evolução

Por Marco Cardinali

ROMA, quarta-feira, 28 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- Em 2009, celebram-se 150 anos desde que Charles Darwin escrevera «A origem das espécies», obra fundamental da biologia evolucionista. A partir de recentes descobertas científicas relevantes, a teoria da evolução biológica merece uma atenta e séria reconsideração, tanto do ponto de vista científico como de uma perspectiva filosófica e teológica, evitando as posturas ideológicas que com frequência dominaram o debate.
Com esta convicção, e com o objetivo mais geral de promover uma correta e fecunda relação dialética entre ciência, filosofia e teologia, a máquina organizativa trabalha para preparar o congresso internacional «A evolução biológica: fatos e teorias», organizado pela Universidade Pontifícia Gregoriana, dentro do projeto STOQ, e sob o alto patrocínio do Conselho Pontifício para a Cultura.
Zenit entrevistou o arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do citado conselho, com o fim de mostrar a importância de um tema que apaixona cientistas, filósofos e teólogos, e atrai um grande número de pessoas.
–O senhor poderia explicar por que o Conselho Pontifício para a Cultura quis patrocinar este congresso?
– Dom Ravasi: Há duas razões importantes. Uma se refere às funções do próprio Conselho que, tendo como própria essência a cultura, a considera na forma atual. A cultura não é só a dimensão artística, intelectual, humanística, mas leva em conta muitas disciplinas que hoje têm ressonância dentro da experiência social e humana, como parte do próprio interesse da cultura.
Sabemos, por outro lado, que hoje a categoria «cultura» se converteu em algo transversal e, em consequência, atravessa as experiências fundamentais do homem em sua capacidade de reflexão, portanto de interpretação da realidade. A ciência está certamente no ponto mais alto da cultura contemporânea, portanto exige uma confrontação, uma atenção por parte de quem tem precisamente como referência a cultura.
A segunda razão se refere ao fato de que a dimensão científica provocou com frequência nos últimos tempos a dimensão religiosa; portanto, a confrontação entre fé e ciência se converteu em uma das confrontações mais agudas e delicadas.
Por este motivo, é indispensável sobretudo voltar a construir um encontro nas fronteiras. Ou seja, o cientista deve começar a olhar além, começar a ver o horizonte da filosofia e da teologia, arrancando de sua mente a convicção de que estamos em presença de um resto arqueológico, de um paleolítico intelectual remoto, contrário à força da ciência; por outro lado, o teólogo e o filósofo devem conseguir olhar o campo do científico sem temer sempre que haja pessoas que querem construir novos monstros, rompendo todo vínculo, todo perímetro próprio da humanidade, ou, em todo caso, da antropologia. Esta segunda razão importantíssima se sintetiza em uma palavra da qual se abusou muito, e muito difícil de colocar em prática: diálogo.
– Portanto, o tema se insere no atraente debate entre ciência e fé, com a esperança de que desemboque em um verdadeiro diálogo. Existe o risco de que, por uma parte ou pela outra, se tenda a encontrar uma postura definitiva, apoiada só em uma vertente?
– Dom Ravasi: Os riscos são muitos e estão sempre escondidos quando se começa a considerar questões de fronteira, sempre muito delicadas, que admitem por sua própria natureza ultrapassar limites.
O primeiro risco é o de uma espécie de «definitividade» que todo campo do saber afirma para si mesmo mas, paradoxalmente, o risco pode ser também o contrário, ou seja, a afirmação de algum elemento extravagante, no verdadeiro sentido do termo, que sai, vaga fora do horizonte em que se está inserido.
Há cientistas, por exemplo, que são rigorosos em sua própria área de conhecimento e que, provocados por uma confrontação em âmbito filosófico ou metodologicamente diferente, suscitam teorias que são alheias e que estão muito além de sua própria fronteira.
Outro risco é fazer de modo que alguém procure encontrar, dentro da confrontação, suas próprias teses, suas próprias soluções. Nesta ótica, certamente alguns se sentirão excluídos do debate, se farão sentir e dirão que falta sua voz específica. Pensemos, por exemplo, em toda a corrente americana do chamado «criacionismo», que tem certamente sua própria visão e que, no futuro, poderia ser inclusive objeto de outro forte confronto.
Portanto, os riscos são múltiplos, mas estou convencido de que a possibilidade, entre homens de cultura, no sentido mais alto e nobre do termo, de confrontar-se, fará que muito além das rebarbas, muito além de alguma degeneração, está, ao contrário, a possibilidade de uma confrontação séria e qualificada.
Com frequência, quando falo de diálogo inter-religioso, uso uma imagem, que considero adequada ao nosso tema: a imagem do dueto; ou seja, levar em conta que, para conseguir a harmonia, não é necessário que haja uma concordância, que teologia e ciência digam o mesmo; se for assim, provavelmente uma das duas se equivoca, porque necessariamente leem a realidade a partir de duas perspectivas diferentes. A imagem do dueto, ao contrário, indica que a harmonia pode dar-se inclusive se estivessem cantado juntos um soprano e um baixo, porque cada um tem seu timbre, mas ao mesmo tempo se associa ao outro e se constrói a harmonia. São duas leituras a partir de dois ângulos diferentes; são perspectivas diferentes sobre a mesma realidade, que devem conservar a própria diversidade, mas mostrar que são interpretações da mesma realidade.
– Já há muitas iniciativas internacionais previstas para 2009 e algumas de cunho científico. Até hoje, esta é a maior organizada na Igreja sobre este tema. E se destaca a vontade de confrontar-se em questões de fronteira. Aos riscos que já citamos se poderia acrescentar que talvez este congresso, altamente científico, seja para poucos e que a maioria das pessoas fique distante e não se envolva no assunto?
– Dom Ravasi: De fato, já propus aos organizadores, antes de qualquer coisa, que se mantenha o rigor. É fundamental, porque se já se concebe o encontro como de tipo divulgativo, incorre-se na aproximação, e depois se chega a um acordo genérico, ou à dissociação sempre baseada em pressupostos ideológicos anteriores. Portanto, quem se inscreve deve ser consciente de que todas as palestras serão de alto nível e que haverá de empenhar-se, com o esforço próprio de quem deve trabalhar com o pensamento, portanto, com uma elaboração conceitual e temática sofisticada e afinada.
Propus que, ainda mantendo o rigor neste congresso, depois haja ao menos dois possíveis itinerários: talvez um encontro, ou inclusive simplesmente um workshop. Será estudado como, seja com um enfoque didático, ou levando em conta eventuais objetivos, transcrição dos conteúdos, e inclusive visões mais gerais em torno desse tema da evolução biológica, e ao problema da relação fé-ciência para fins pastorais e inclusive escolares, didáticos.
Se for rigoroso, pode inclusive ser acolhido no âmbito escolar, disciplinar, talvez do Ensino Médio, sem excluir a possibilidade de fazer também trabalhos com crianças do Ensino Fundamental.
O segundo itinerário é elaborar textos, não dos atos acadêmicos, mas que tenham a finalidade de poder ir ao encontro de perguntas que surgem da base, de pessoas que suportam provocações contínuas sobre estes temas, por parte de jornais, revistas, televisão, e que se resolvem, na maioria das vezes, só com frases prontas e algumas vezes inclusive com ironia, e não com um aprofundamento sério. Neste segundo âmbito, poderão se envolver instituições eclesiásticas, culturais, que tenham este aspecto no centro de seu interesse cultural; penso por exemplo nas universidades pontifícias.
– Já faltam menos de dois meses para a celebração do congresso. Que atitude o senhor aconselharia aos participantes ou a quem for acompanhá-lo de longe?
– Dom Ravasi: Poderíamos quase evocar uma tradição da história da cultura. São dois os verbos fundamentais que formam a cultura. Por um lado, o verbo escutar, que inclui evidentemente o verbo ler. Escutar é o mais difícil. Não é verdade que é mais difícil falar em público, é muito mais árduo escutar. Escutar quer dizer seguir os itinerários propostos à atenção, com um esforço; tanto é verdade que nós, os italianos, temos uma palavra muito significativa para indicar o que não tem sentido, é absurdo, que deriva de surdez, ou seja, não ser capazes de ouvir as argumentações. Portanto, vir um pouco despojados de tantos preconceitos, tantos condicionamentos e começar a seguir os itinerários que se indicam. O exercício da escuta é fundamental, sobretudo em caso de comunicações sofisticadas como estas.
O segundo verbo fundamental é conhecer. Eu diria que a definição mais alta de cultura é a que se encontra na primeira linha da Metafísica de Aristóteles, onde se afirma que todos os homens, por sua natureza, desejam conhecer. O conhecimento, contudo, não é apenas questão intelectual; aqui se tocam problemas que, como se vê, são claramente de tipo existencial, porque tocam a pergunta fundamental sobre quem somos, que sentido temos. Naturalmente, o cientista enfrenta esta pergunta simplesmente do ponto de vista dos mecanismos que determinam o ser, a realidade que constitui, neste caso, o homem em sua identidade. A filosofia e a teologia exaltam, ao contrário, o conhecimento através de outras dimensões. Também o científico, por outra parte.
Eu diria que há ao menos quatro elementos envolvidos no conhecimento: a inteligência; a vontade, e aqui é preciso voltar verdadeiramente a um querer juntos, uma vontade comum ao serviço da humanidade; o sentimento, ou seja o aspecto afetivo, o aspecto da paixão, que é indispensável. Há temas que, entre outras coisas, nos envolvem muito profundamente e se referem a quem somos realmente; e, por último, também a ação, o agir.
Conhecer, na Bíblia, indica inclusive o ato sexual entre duas pessoas que se amam e que constroem, portanto, uma família, a casa, o futuro. Em nosso caso, o conhecimento terá ressonâncias concretas que podem ser muito delicadas. Em consequência, acompanhar este congresso quer dizer conhecer intelectualmente, fazer um grande exercício também com a vontade, a sabedoria, que sabe julgar e participar, sabendo que estamos todos chamados a isso, porque é uma demanda que nos afeta; e, no final, recordar que devemos construir uma ciência , uma teologia, uma filosofia que repercutam na existência e na história.

Para mais informações: www.evolution-rome2009.net/ ou www.unigre.it

fonte: www.zenit.org
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Congresso sobre teoria da evolução - entrevista Empty Muitíssimo obrigado!

Mensagem por Binhokraus Qui Jan 29, 2009 10:31 pm

Estarei de olho nesse congresso...
E para aqueles que quiserem esclarecimentos sobre o tema, me disponho em faze-lo. abraços!
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