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martírio

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Mensagem por gleidsonmacedo Qua Ago 28, 2013 9:59 am

Pessoal uma dúvida:
como distinguir um mártir? Que critérios ele preenche? Tipo... Pode ser chamado mártir quem morre fugindo da perseguição que sofre? Ou pode ser chamado mártir quem reagiu contra seu agressor na hora do martírio? Quem se prepara ou para reagir ao agressor é mártir? Os cruzados que morreram lutando são mártires?
ou mártir seria aquele que aceita o seu martírio, não reage, não se defende, não foge dos agressores?
existe realmente a martiriologia enquanto gênero literário? E por isso as hagiografias de mártires cristãos são escritas nesse genero e ganham contornos de suavidade e heroísmo que na verdade não se pode afirmar com certeza se foi assim mesmo?
a palavra mártir por se só não nos dá uma ideia muito profunda do que seria, pois vem do grego e significa testemunha, então ela ganhou um significado cultural e histórico? Qual seria esse significado na cultura cristã?
obrigado
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Mensagem por Geovanni146 Qua Ago 28, 2013 9:55 pm

Olá, paz do Senhor.

Na intenção de enriquecer o tema deixo este breve texto.

"É preciso perder a vida para salvá-la"... Nesta breve frase, recolhida dos lábios de Jesus, resíde a explicação do heroísmo de que os mártires deram provas: a sua experiência e o seu sacrifício não encontram o seu verdadeiro sentido se não forem interpretados em função de uma intenção sobrenatural. É verdade que toda causa humana pode encontrar os seus fanáticos, que se dispõe a morrer para que essa causa triunfe; mas os mártires não pensam propriamente no triunfo da sua causa, no sentido do que  hoje se fala de "causa" a respeito de um partido político ou de uma doutrina filosófica: Testemunhas de Cristo, esses homens são combatentes do reino de Deus.

Assim, o martírio não é apenas um fato político, a consequencia lógica de um conflito entre uma doutrina revolucionária e a ordem estabelecida. É um elemento fundamental da Igreja primitiva, um ato sacramental, que se realiza nas almas privilegiadas como um carisma, como "a graça das graças", e cujos efeitos sobrenaturais se projetam sobre toda a comunidade dos filhos de Deus. Fé absoluta em Jesus, esperança total na promessa, caridade levada ao extremo da oblação de si mesmo: as três virtudes teologais efetivam-se no martírio com uma plenitude inigualável. No sacrifício do sangue, encontra a sua expressão mais perfeita a experiência cristã toda inteira, moral, ascética e mística.

"Que outra coisa é o mártir - escreverá no século IV S. Vitrício de Rouen - senão um imitador de Cristo? A verdadeira "imitação", aquela que no futuro as gerações dos fiéis se esforçarão por alcançar, foi realizada de uma só vez pelas vítimas da arena. O mártir caminha no seguimento de Jesus, como Jesus tinha predito a Pedro: "Para onde eu vou, não podes seguir-me agora, mas seguir-me-ás mais tarde (Jo 13,36). Assim, mais tarde, na narrativa da morte de S. Policarpo, ler-se-á esta frase: "Nós adoramos Cristo como o filho de Deus, mas, com toda a justiça, veneramos os mártires como discípulos e imitadores do Senhor". De século para século, esta convicção transmitir-se-á através da Igreja até os nossos dias... (fonte: Daniel-Rops-A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires).

Grande abraço.
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Mensagem por Flávio Roberto Brainer de Qua Ago 28, 2013 10:27 pm

Que beleza, Geovanne, o pequeno texto que nos apresenta !

Para enriquecer ainda mais o tópico, transcrevo aqui um pequeno texto do Cônego José Luis Villac que explica alguns aspectos inerentes a esta questão:

"O vocábulo “martírio” vem do grego, através do latim “martyrium”, que significa TESTEMUNHO. Nos Tratados de Teologia a Igreja assim define o “Martírio”: é a tolerância, ou seja, a aceitação voluntária e sem resistência da morte corporal — e de todos os tormentos que a acompanharem — infligida por ódio à Fé ou à virtude cristã. É o Testemunho perfeitíssimo da Fé. É o Martírio no sentido estrito do termo. São portanto indispensáveis — para que haja Martírio no sentido estrito — os três elementos acima sublinhados, a saber: 1) aceitação voluntária; 2) da morte corporal; 3) perpetrada por ódio à Fé.

Houve, no entanto, nos primórdios do Cristianismo, casos em que, embora não se verificando os três requisitos, a Igreja considerou -- e até nossos dias celebra -- os seus protagonistas como Mártires. Servem de exemplo os Santos Inocentes, chacinados por Herodes (festa no dia 28 de dezembro); São João Evangelista, que saiu ileso da caldeira de azeite fervente (festa no dia 6 de maio); ou as Santas Apollonia e Pelágia que, para a guarda da virtude, buscaram a própria morte (festa no dia 9 de fevereiro). Estes são Mártires e venerados como tais, no sentido lato da palavra (cfr. Santo Tomás, Bento XIV).

No caso em que se é colocado ante a alternativa, ou morrer ou apostatar da fé católica, o cristão tem que escolher a morte e os tormentos que lhe são infligidos.

A prova de que uma pessoa é mártir, é o entregar sua vida sem resistência aos algozes. O que não quer dizer que os católicos não possam resistir e se defenderem. Os que resistem e se defendem, conforme o caso, podem até ser santos. Poderão até ser canonizados. Em certas circunstâncias pode até haver obrigação de se defender, por exemplo quando da conservação da própria vida depende evitar uma profanação ao Santíssimo Sacramento. Porém os que assim agem não são mártires no sentido estrito. O martírio é uma graça específica, e muito alta, que Deus dá a alguns mas que não exige de todos.

Martírio de São Dionísio, após o qual ele carrega a própria cabeça - do Livro de Horas, que pertenceu provavelmente a Carlos VIII
Por que a Igreja só canoniza como mártires os que não se defenderam? Porque aquele que se defende e resiste, pode fazê-lo por amor à Fé, mas pode também fazê-lo pelo sentimento natural de conservação da própria vida. Este último sentimento, embora legítimo, não caracteriza o martírio. Ora, como a Igreja não tem meios de conhecer os sentimentos interiores da alma do católico que morreu se defendendo, ela não pode canonizá-lo. Ao passo que, aquele que poderia ter salvo sua vida renunciando à sua Fé ou defendendo-se, e não o fez, dá uma prova evidente de que era movido por amor à Fé.

Os primeiros cristãos, embora perseguidos por causa de sua fé, ou de suas virtudes, não tramavam uma revolta coletiva, uma revolução, para derrubar as autoridades pagãs. Eles procuravam conquistar o Império para a Fé, através das orações, da pregação, mas sobretudo dando o testemunho do martírio.

Nota-se que houve uma moção do Espírito Santo para que, em conjunto, eles agissem assim. Foi diferente, por exemplo, no tempo das Cruzadas, em que o sopro do Espírito Santo movia os cruzados à luta. Não foi por meios violentos que Deus quis implantar a semente inicial do Cristianismo. Mas pela oração e pregação coroadas pelo testemunho de tal quantidade de mártires, quis mostrar a incomparável superioridade da Religião de Cristo, que forjava homens, mulheres e crianças da têmpera daqueles que passavam por tormentos atrozes e empenhavam a vida por amor a Deus, dando heróico testemunho de Cristo."
____________________________

Um grande abraço !!!


Última edição por Flávio Roberto Brainer de em Qui Ago 29, 2013 4:20 pm, editado 1 vez(es)
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Mensagem por gleidsonmacedo Qui Ago 29, 2013 9:21 am

Então os cruzados não seriam mártires? Os que morreram em combate. Ouvi dizer que o martírio era, inclusive, propaganda para os cruzados, por isso fiquei em duvida, existe algum relato nesse sentido?
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Mensagem por Flávio Roberto Brainer de Qui Ago 29, 2013 4:19 pm

Caro Gleidson,

Responder a essa questão exige de nós um estudo bem mais profundo a respeito do tema, buscando outras fontes para além das que aqui foram postadas. De acordo com o texto do Cônego Villac, nem todos os que morreram nas cruzadas são mártires, ou seja, alguns podem ter sido e outros não, de acordo com o requisito da voluntariedade, da não resistência. Me parece que o "divisor de águas", nesta questão, está na possibilidade de, negando a fé, ficar livre de tal morte. Sendo mais claro, é como se o cristão, uma vez em poder dos algozes, tivesse duas possibilidades: negando a fé, estaria livre da morte, e por outro lado, aceitar voluntariamente a morte para não negar a fé por amor a Jesus, por amor a Igreja. Mas vamos buscar outras fontes que possam corroborar com a temática que é muito interessante.

Um grande abraço !!!
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